segunda-feira, 9 de outubro de 2006

A ética de Lula

O falecido Mário Covas, um paradigma de honradez na vida pública, foi citado tanto pelo candidato oposicionista Geraldo Alckmin, seu discípulo político, quanto pelo presidente-candidato Lula, durante o debate da noite de ontem na Rede Band de televisão. Alckmin, como não poderia deixar de ser, o fez com reverência. "O Mário Covas dizia que se um auxiliar errasse o erro seria dele, porque ele o tinha colocado no cargo", afirmou. "Covas assumia suas responsabilidades."
Já Lula, mesmo sem falar mal do grande político, um dos fundadores do PSDB, usou de seu nome em proveito próprio e com falso testemunho. Sobre a postura ética de Covas, fez questão de lembrar que foi por interferência dele que o PSDB deixou de apoiar Collor (que hoje apóia Lula) no segundo turno das eleições de 1989. Depois, em relação ao escândalo do dossiê Vedoin, que envolveu seu governo e seu partido, o PT, num escândalo com clara influência no resultado do primeiro turno das eleições, Lula disse a Alckmin: "Você sabe que fui eu quem não deixou sair o Dossiê Cayman, porque sou contra esse tipo de coisa". O alvo principal do Dossiê Cayman, como se recorda, era o então presidente Fernando Henrique Cardoso, contra quem Lula concorria nas eleições de 1998. Mas o falso documento incluía também os nomes de Covas, do falecido ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta e do governador eleito de São Paulo, José Serra, como possuidores, assim como Fernando Henrique, de milionárias contas num paraíso fiscal do Caribe.
O falso testemunho dado por Lula se desnuda diante de uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, em 22 de setembro passado. Em depoimento ao repórter Ricardo Muniz, o ex-pastor evangélico Caio Fábio D'Araújo Filho, personagem central no caso Cayman, como suposto intermediário dos fraudadores que queriam vender o dossiê a peso de ouro, afirma ter sido pressionado pelo Partido dos Trabalhadores, e mesmo por Lula, para divulgar o falso documento. Na época, Caio Fábio estava à frente de um projeto com fins sociais denominado Fábrica de Esperança, no município de Acari, no Rio. Vejam o seu relato, copiado da reportagem:
"Segundo Caio Fábio, em meados de 1998 Lula fez uma visita à Fábrica de Esperança. 'Naquele dia apareceu lá um cara que Lula conhecia há muito mais tempo do que eu e que tinha sido a pessoa que me contou a história de Cayman na Flórida. Eles se abraçaram como velhos amigos. Esse indivíduo me disse: 'Reverendo, eu não disse pro senhor que é todo mundo igual? Contei aquela história pro Lula e ele está louco atrás daquilo'. Depois o próprio Lula me abordou: 'Como você não me conta uma coisa dessas?'
A partir daquele momento, líderes do PT passaram a pressioná-lo. 'Havia ligações, meia-noite, todo dia, às vezes a Bené (Benedita da Silva) estava chorando: 'Meu reverendo, pelo amor de Deus, salva a gente. Sem essa história o Lulinha não vai ganhar. Nós jamais vamos conseguir. Não deixa a gente nessa, pelo amor de Deus.' Deus é minha testemunha, e as contas telefônicas também, de quem ligava pra quem. Até mesmo o José Dirceu veio ao Rio conversar comigo. A covardia foi tão grande que à medida que o tempo foi passando, e ficou patente que a papelada era uma grande operação de falsificação, eles foram transferindo tudo para as minhas costas.'
Processado por calúnia por Fernando Henrique, Caio Fábio só se viu livre das acusações no ano passado - inocentado pelo depoimento de Eduardo Jorge, ex-secretário de FHC. Aos 51 anos, casado pela segunda vez, rompido com o meio evangélico e líder de uma comunidade cristã alternativa com 3 000 membros em Brasília, Caio Fábio está recomeçando. 'Minha reclusão passou da hora de acabar. Mas nada quero com temas políticos, só quero propagar a fé bíblica' , diz. 'Em 1998 eu fui deixado com uma mão na frente e outra atrás por um PT que posou de ético. E é tudo mentira. O pessoal do PT é que ficou atrás de mim."

Portanto, Lula falseia os fatos quando posa de ético que impediu a divulgação do dossiê. A verdade é que, por ter sido comprovada rapidamente a falsidade dos documentos pela Polícia Federal, Lula, que de bobo não tem nada, tirou o corpo fora a tempo.

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