segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Chuchu com espinhos

O primeiro debate televisivo do segundo turno entre os dois candidatos presidenciais, transmitido pela rede Band e encerrado por volta das 11 horas da noite de ontem, reservou uma surpresa: a contundência da atuação do oposicionista Geraldo Alckmin. Com certeza, muito poucos entre os que não participam da coordenação de sua campanha esperavam que o chuchu fosse bater tão forte, sobretudo o seu oponente, chamado por mais de uma vez de mentiroso por ele, olho no olho e ao vivo e em cores. Em alguns momentos Lula pareceu grogue, como se tivesse levado um direto no queixo.
Nenhuma das provocações feitas pelo presidente-candidato ficou sem resposta de Alckmin. Já Lula tergiversou na maioria das questões formuladas pelo adversário, a ponto de, em desespero de causa, criticar até o presidente americano George W. Bush pela intervenção militar no Iraque. Aconteceu no terceiro bloco do debate, quando ele respondia a uma pergunta do tucano sobre os fracassos da política externa – a encampação de bens da Petrobrás na Bolívia, a invasão de produtos chineses após o reconhecimento daquele país como de economia de mercado pelo Brasil, e a preterição do Brasil na eleição tanto para o comando da Organização Mundial do Comércio quanto para o Conselho de Segurança da ONU - em razão da tibieza do governo. Eis o que disse o presidente-candidato: "Se Bush tivesse o bom senso que tenho, não teria feito a guerra do Iraque". Bush, certamente, não vai gostar quando souber.
Enquanto Alckmin se manteve no ataque o tempo todo, citando de cabeça uma profusão de números sobre sua gestão em São Paulo e a do adversário no governo federal, perguntando com insistência sobre a origem do dinheiro no escândalo do dossiê e ainda prometendo vender o luxuoso avião presidencial, o Aerolula, para com isso construir cinco hospitais (contra nenhum feito nos quatro anos do mandato de Lula), o presidente-candidato precisou ler as perguntas escritas por sua assessoria numa folha de papel, nos dois primeiros blocos. Alvo de ironia do oposicionista, a partir do terceiro bloco procurou mostrar maior autonomia, mas vez por outra voltava à mesma folha. Na cartilha preparada para ele havia menções às 69 tentativas de instalação de CPIs pelos petistas durante a gestão de Alckmin em São Paulo e às irregularidades que o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, depois nomeado presidente da CDHU pelo governo paulista, teria cometido. Em ambas essas provocações Lula foi ridicularizado pelo adversário. No caso das CPIs, porque além de o PT não ter feito outra coisa na Assembléia Legislativa paulista durante aquele período a não ser a coleta de assinaturas para elas, com temas que iam da destinação da verba publicitária da Nossa Caixa ao suposto escândalo das arbitragens no futebol, desde 1988 – portanto, há quase vinte anos, como lembrou Alckmin – a instalação de tais comissões depende de sua aprovação pelo plenário, o que o partido de Lula jamais conseguiu. E no de Barjas Negri porque Lula disse ter ele sofrido 102 condenações do Tribunal de Contas do estado, uma grossa mentira, até porque não compete ao órgão absolver ou condenar ninguém. No máximo, aprova ou desaprova contas de órgãos públicos. Somente depois, na esfera da Justiça propriamente dita, é que uma conta reprovada pode redundar em punição para o acusado, com a devolução do dinheiro malversado ao erário. Mas até aí muita água corre sob a ponte, tanto que o recém-eleito deputado federal Paulo Maluf nunca precisou pagar do próprio bolso pelos fuscas com que presenteou, como governador paulista na época, os jogadores da seleção brasileira de 1970, embora condenado até pelo Supremo Tribunal Federal. A sentença depois foi anulada.
O debate deixou nos espectadores, pelo menos entre aqueles que não militam no PT, a impressão nítida de ter havido um vencedor, Alckmin, e um perdedor, Lula. A enquete feita logo depois pelo UOL confirmava a impressão. Por volta da 1h20 da madrugada, já tendo votado mais de 125 000 internautas, o resultava estava 61% para o ex-governador paulista contra 39% para o atual presidente. Fosse um jogo de futebol, o resultado seria uma goleada.

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