terça-feira, 3 de outubro de 2006

Questão de estilo

Um tanto quanto desenxabido pela surpresa negativa do primeiro turno, o comando político da campanha do presidente-candidato Lula anuncia agora que partirá para o ataque. Para tanto, já convocou para participar do esforço conjunto governadores eleitos do PT tidos como bons de voto, entre eles Jaques Wagner, da Bahia, e Marcelo Déda, de Sergipe. E também o boquirroto ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes, eleito deputado federal pelo Ceará e cuja maneira de se expressar, com violência desmedida a propósito de qualquer assunto, por vezes passa a impressão de ser ele alguém mentalmente desequilibrado. Ontem, ao sair de uma reunião com o comando, no Palácio da Alvorada, fiel ao seu estilo Ciro foi logo enumerando para os repórteres o que a seu ver são escândalos não apurados da gestão Fernando Henrique, como os casos Marka, FonteCindam, Sudam e da privatização da telefonia. "Se falhas houve, vamos corrigi-las", disse, referindo-se à campanha do primeiro turno. "Não é razoável que o país seja induzido a esquecer que essa gente da coalizão PSDB-PFL são os recentes responsáveis pelos mais graves escândalos impunes da história republicana brasileira." O deputado não explicou por que considera esses casos mais graves que os do mensalão, do dossiegate e da máfia dos sanguessugas, nem lhe foi perguntado se ele se esqueceu de que até alguns anos atrás fazia parte dos quadros do PSDB.
Para não dar outro tiro no pé, como se referiu ao escândalo do dossiê promovido por seus companheiros petistas, o presidente Lula faria melhor se ouvisse gente dotada de mais equilíbrio em sua campanha para o segundo turno, em especial quando for aos debates televisivos que agora não quer desperdiçar. Uma voz sensata, por exemplo, é a do ex-ministro das Relações Institucionais Jaques Wagner, que na maior proeza destas eleições conseguiu derrotar as forças do senador Antonio Carlos Magalhães na Bahia. Wagner disse considerar imprescindível a expulsão dos petistas envolvidos no escândalo do dossiê. Segundo ele, o partido precisa tomar essa atitude para evitar o risco de uma repetição do episódio. "Quando se começa a abrir qualquer tipo de pequena exceção, a pequena exceção acaba virando uma grande exceção", ponderou - coberto de razão, ao que parece, porque a julgar pelo resultado de domingo passado isso de empurrar a sujeira para debaixo do tapete não dá muito certo.
Por falar em Wagner e nas forças por ele derrotadas, na sessão de hoje à tarde do Senado ocorreu uma divertida troca de farpas entre o senador Antonio Carlos Magalhães e seu colega paulista, Eduardo Suplicy, do PT. Com aquele jeito educado, quase doce de sempre, Suplicy indagou ao baiano - que discursava da tribuna ressentido com a derrota e prometendo fazer de tudo pela vitória de Geraldo Alckmin no segundo turno, para dar o troco - se o resultado amargo na Bahia não se devera à falta de diálogo com o PT e às ofensas que ele, ACM, dirigira algumas vezes a Lula. A resposta, também como sempre no senador baiano, veio rápida e ferina: "Se Vossa Excelência, que é do PT, tem diálogo difícil com o presidente e seu partido, como posso dialogar com esse grupo de seu partido que não é o seu?", devolveu ACM. E completou: "Agora, Vossa Excelência, mesmo com seu estilo, sempre foi um homem com uma popularidade imensa em São Paulo. No entanto, desta vez o senhor teve uma votação apertada e perigosa. Seria por causa do seu estilo?" Faltaram palavras ao meigo Suplicy para a tréplica.

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