Digam o que disserem os membros da tropa de choque do presidente Lula escalados para protegê-lo das labaredas do caso nesta reta final de campanha, existe agora uma prova irrefutável do envolvimento do Palácio do Planalto no escândalo do dossiê. Trata-se da confirmação, dada pelo próprio autor dos telefonemas, de que no mesmo dia da prisão dos dois petistas em São Paulo com 1,75 milhão de reais em cédulas de real e dólar, reunidos para a compra dos documentos falsos, a chefia do Gabinete da Presidência e o responsável pelo setor de inteligência do comitê do candidato presidencial andaram trocando informações. Gilberto Carvalho, o chefe do Gabinete, declarou candidamente, na sexta-feira passada, que ligou duas vezes para Jorge Lorenzetti, o encarregado da inteligência, no dia 15 de setembro passado, a primeira logo depois das 10 horas da manhã e a segunda logo depois das 18 horas. E ontem reforçou seu testemunho, dizendo para a repórter Vera Rosa, do jornal O Estado de S. Paulo, que seus telefonemas tiveram por fim cumprir "um dever de Estado, de buscar informações para o presidente Lula frente a uma notícia imprecisa que havia chegado". Não se acusa Carvalho de fugir de seus deveres funcionais. O problema de sua versão é que, àquela altura, ninguém sabia – nem a Polícia Federal, que tomava os primeiros depoimentos de Gedimar Passos e Valdebran Padilha, os dois petistas presos com o dinheiro – que Lorenzetti era, como se evidenciou depois, o mentor da compra do dossiê. Por que o secretário particular do presidente ligou justamente para ele em busca de pormenores, e não para qualquer outro membro graduado do comitê, é a pergunta a ser respondida.
A PF constatou também que nas proximidades do estouro do caso Lorenzetti entrou em contato com outro peixe graúdo do PT, o ex-ministro José Dirceu. Embora tenha sido cassado e apeado do governo, Dirceu continua atuante junto à coordenação da campanha de Lula. Mas como o teor de sua conversa com Lorenzetti é desconhecido, por não ter havido quebra de sigilo, e a data da ligação telefônica é imprecisa, não há como comprovar seu envolvimento no chamado dossiêgate.
Ainda ontem, em evento político de campanha nomeado 'Ato Nordestino' e realizado em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, os senadores Aloizio Mercadante e Eduardo Suplicy, do PT, e o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, do PC do B, entre outros, trataram de inocentar o secretário particular de Lula. Segundo Mercadante, o fato de Carvalho ter ligado para Lorenzetti no dia da prisão de Gedimar e Valdebran "não caracteriza envolvimento". Disse mais o candidato derrotado ao governo de São Paulo, de acordo com a Folha Online: "É evidente que ele não participou. O papel dele como chefe de gabinete é informar (o presidente) de fatos que acontecem". Suplicy, por sua vez, considerou "satisfatórios" os esclarecimentos dados por Carvalho. E Rebelo qualificou como "políticos" os desdobramentos ocorridos a partir da investigação policial.
Se não foram três comentários idiotas, foram um escárnio à opinião pública. O envolvimento do secretário particular de Lula no escândalo do dossiê está mais do que caracterizado com seus dois telefonemas no dia da prisão dos correligionários petistas. Seus esclarecimentos não têm nada de satisfatórios. E quanto aos desdobramentos, compete agora ao TSE decidir se a participação direta do Planalto no caso configura ou não um crime eleitoral punível com a impugnação da candidatura Lula.
domingo, 22 de outubro de 2006
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