O Diretório Nacional do PT reuniu-se ontem em São Paulo durante sete horas, a portas fechadas, para decidir o que fazer com os envolvidos no escândalo do dossiê contra políticos tucanos, e não produziu nada além de um traque junino com tanta conversa. Na decisão mais aguardada, o deputado Ricardo Berzoini, presidente do partido, foi apenas instado a licenciar-se do cargo até o esclarecimento do caso, o que ele fez em declaração escrita. Nesta, sem enganar ninguém, tenta vender a versão de que seu afastamento teve caráter voluntário, "em nome da unidade e coesão do Partido dos Trabalhadores" e para evitar que os fatos ligados ao dossiê continuem a ser "utilizados por pessoas que querem impedir o Brasil de continuar avançando para uma democracia plena com justiça social". É de chorar de rir.
Durante o período de afastamento de Berzoini, decidido não por ele e sim pelo partido, para limpar a área com vistas à reeleição de Lula no próximo dia 29, assume o cargo interinamente Marco Aurélio Garcia, que antes também havia substituído o deputado na coordenação da campanha do presidente. "Tenho absoluta certeza de que rapidamente será lançada a luz necessária sobre esse episódio", afirmou ontem Garcia, após a reunião. "Para isso nós contamos com os mecanismos de investigação do Estado republicano e que vou me ver livre desse abacaxi e devolvê-lo ao meu querido amigo e companheiro." Outra pérola. Então a presidência do partido que obteve a maior votação no país para a renovação do Congresso e continua como favorito, com seu candidato, ao Palácio do Planalto, não passa de um abacaxi? Com pensamentos assim a comandá-lo, o que esperar do partido no futuro? De toda forma, Garcia foi pelo menos mais espontâneo que Berzoini na sua declaração, além de indicar que sua interinidade deve durar apenas o tempo necessário à reeleição de Lula e mais algum, para não dar má impressão ao distinto público.
O diretório decidiu também, ontem, abrir processo administrativo contra o ex-secretário do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas e o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso. Dois outros envolvidos no escândalo, o churrasqueiro preferido do presidente Lula e ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina, Jorge Lorenzetti, e Hamilton Lacerda, ex-braço direito do senador Aloizio Mercadante na campanha ao governo do estado de São Paulo, já tinham tomado a iniciativa de desfiliar-se do partido, por carta. Como peixes pequenos, Bargas e Veloso, se vierem a ser expulsos, não comoverão a platéia.
Encerrada a encenação petista, Lula vai todo fagueiro ao seu primeiro debate televisivo com o adversário Geraldo Alckmin, na noite de domingo. Certamente dirá que o PT e seu governo não escondem as sujeiras debaixo do tapete, embora fatos pregressos mostrem o contrário. Mas se podem ser compreendidas num partido político, manobras desse tipo não se concebem numa investigação, de 'Estado republicano' como diria Garcia, conduzida pela Polícia Federal. A força subordinada ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, vem se comportando na apuração do caso do dossiê com uma discrição além da conta. Até as fotos da montanha de cédulas de dinheiro, em real e dólar, só chegaram à imprensa porque um delegado despeitado as passou por baixo do pano. Com esse andar da carruagem, é de duvidar que algum dia a PF aponte os verdadeiros mandantes do crime e, junto com eles, a origem do 1,75 milhão de reais apreendidos com os dois intermediários petistas presos perto do aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Está aí uma aposta, válida principalmente para depois do encerramento da eleição presidencial.
sábado, 7 de outubro de 2006
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