sábado, 28 de outubro de 2006

Febeapá na Globo

Este blogueiro desligou a TV antes de acabar o primeiro bloco do último e mais aguardado dos debates televisivos entre os dois candidatos presidenciais, realizado na noite desta sexta-feira pela Rede Globo. Ele não suportou o conjunto de elementos que, a seu ver, transformou esse evento tão valorizado previamente num legítimo exemplar do festival de besteiras que assola o país, o febeapá tão bem definido por Stanislaw Ponte Preta. A repetitividade das perguntas e respostas, assim como da postura adotada pelos candidatos, foi o elemento principal quanto ao conteúdo, a julgar pelo primeiro bloco. Mas o que tornou o espetáculo insuportável foi o fiasco de uma idéia, aprovada por não se sabe quem dentro da Globo, de fazer do debate um programa de auditório, como se Lula e Geraldo Alckmin fossem aprendizes do Faustão, e não aspirantes ao cargo mais alto da República. Para completar a impressão de bagunça, novamente ninguém se preocupou em tornar visível para os debatedores um cronômetro. Além de o tempo dado para as perguntas e as réplicas e tréplicas ser insuficiente – 40 segundos e 1 minuto, respectivamente -, a falta desse cronômetro visível levava o mediador William Bonner a todo momento interromper ao meio o raciocínio dos candidatos, que como qualquer pessoa normal não têm um relógio dentro de suas cabeças.
A seleção da platéia, então, foi nada menos que ridícula. Foram levadas ao estúdio 40 pessoas entre o eleitorado indeciso, em trabalho feito em conjunto entre a rede de TV e o Ibope, e algumas delas sorteadas para dirigir perguntas aos candidatos. Estes, para cumprir o combinado com a produção do programa, passaram então a falar só para a pessoa perguntadora, em pé na bancada reservada à pequena platéia, e não para o conjunto dos telespectadores. Tentavam, como é natural, ligar o assunto com outros que gostariam de comentar, e com isso o inquiridor sorteado ficava sem a sua resposta. Para piorar, lá vinha o mediador interromper o raciocínio dos candidatos por estouro de tempo. Difícil imaginar algo mais atroz para se assistir na telinha.
De mais a mais, se a Globo julga brilhante a idéia de falar só para os indecisos, que não passam de 5% do eleitorado a esta altura da campanha, ela que é a líder disparada em audiência no país, isso é um caso para exame de sanidade mental. E, convenhamos, eleitor que até agora, restando pouco mais de 24 horas para o acionamento das urnas eletrônicas, ainda não decidiu em quem vai votar, não merece o menor respeito. No seu caso, recomenda-se substituir o divã do analista pelo banco de madeira da escola básica.
É lamentável que se transforme um evento de inegável importância institucional num mero programa de auditório de TV, pela sanha da Globo por audiência. Além disso, fazer tantos debates em tão pouco tempo é contraproducente. A repetição se torna inevitável, e o que era para ser respeitado vira motivo de chacota.

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