sábado, 6 de janeiro de 2007

Por quem os sinos dobram

Moribunda. A palavra não soa bem, mas serve para explicar a situação em que se encontra o Mercosul. Prestes a completar 16 anos de existência, o bloco comercial dos países do Cone Sul, que no ano passado admitiu a entrada da Venezuela como membro pleno por instâncias do semiditador Hugo Chávez, não consegue sair do estágio inicial de área de livre comércio e a cada dia parece mais distante do sonho de chegar à união aduaneira.
Assim como a Alalc, dos anos 60, que nunca passou de uma sigla vazia, o Mercosul criado em março de 1991 corre o risco de acabar por inanição antes de promover a integração econômica dos países da América Latina a partir de seu núcleo fundador, constituído de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. E isso, por uma razão simples: a cada passo adiante seguem-se dois para trás, porque seus integrantes não admitem sacrificar um milímetro das soberanias nacionais em favor da integração regional.
O contencioso agora aberto pela Argentina contra o Brasil na Organização Mundial do Comércio, OMC, por conta de uma sobretaxa antidumping imposta à resina PET de garrafas de plástico, é apenas a mais recente de uma série de disputas comerciais travadas entre os membros. Outras batalhas já ocorreram, em especial no comércio de automóveis e eletro-eletrônicos entre Brasil e Argentina, e os acordos costurados sempre acabaram beneficiando mais o país vizinho.
A belicosidade argentina recrudesceu sob a presidência de Néstor Kirchner, que almeja reeleger-se e faz do tiroteio com os parceiros do bloco um instrumento de sua propaganda política. Até o pequeno Uruguai não escapa do fogo oportunista de Kirchner. Por ousarem instalar duas fábricas de celulose na sua margem do Rio da Prata com capital finlandês, para diminuir as importações, os uruguaios sofrem aberta campanha de boicote ao turismo receptivo e restrições à entrada de seus produtos na Argentina.
Integração econômica com soberania plena não existe. É preciso que cada um ceda algo para todos obterem um bem coletivo maior, como já mostrou a União Européia. As 'calientes' cabeças políticas desta parte do mundo parecem pensar diferente, em sua típica atitude subdesenvolvida de reinventar a roda. Que insondável mistério torna pétreo o fascínio latino-americano pelo atraso?

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