quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Ênfase e correção

"Um homem de personalidade", dizia um antigo professor meu de português, "está sempre atrasado 15 anos em relação à moda. Ou adiantado." Vem talvez desse ensinamento minha ojeriza para com os modismos, não só no vestuário como também na língua.
O modismo é uma praga no jornalismo. Não me refiro aos neologismos importados, alguns dos quais acabam se consagrando no vernáculo pelo uso popular. Até porque, todos hão de concordar, futebol é preferível a ludopédio, e motorista a sinesíforo. Também não está em discussão o emprego de certos verbos adaptados de termos ingleses, como ocorre com freqüência em textos sobre informática, porque quem escreve 'disponibilizar' não merece sequer comentário.
Refiro-me à utilização do recurso de ênfase. O recurso é justificável para realçar uma idéia ou informação no texto. Os melhores autores clássicos se valeram dele. Mas precisa ser bem usado para cumprir sua finalidade.
Não é o que acontece com o modismo 'exato', um adjetivo associado, no caso, à noção de tempo. Uma repórter escreveu que o presidente Lula falou durante exatos 15 minutos no discurso de lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC. Como não estava com um cronômetro na mão, ela fez no mínimo uma afirmação temerária. Não poderiam ter sido 14 minutos e 50 segundos, ou 15 minutos e 10 segundos? Mesmo que a diferença fosse de apenas 1 segundo, não seriam 'exatos 15 minutos'.
A correção é o primeiro requisito da informação jornalística. Se a repórter escrevesse apenas "falou durante 15 minutos" ou, num assomo de honestidade, "falou durante cerca de 15 minutos", prestaria uma informação de melhor qualidade. A ênfase, nesse caso, não apenas foi desnecessária como contraproducente.

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