Certa vez, uma deputada da oposição trabalhista no Parlamento britânico aparteou Winston Churchill, então líder do Partido Conservador: "Se eu fosse sua mulher", disse ela, cheia de rancor, "poria veneno na sua sopa". Churchill respondeu na lata: "E se eu fosse seu marido, cara senhora, tomaria essa sopa".
É notório que o Congresso Nacional anda carente, há muito tempo, de um político com o carisma, a verve e sobretudo o passado de serviços prestados à nação como Churchill. Também se sabe que como em nenhum outro país a política no Brasil mercadeja no balcão de negócios dos conchavos e interesses mesquinhos. Mas nem por isso se pode assistir, impassível, ao deprimente espetáculo da renovação das mesas diretoras das duas casas do Legislativo nacional, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, a cada biênio.
Como ocorreu na eleição em 2005 de Severino Cavalcanti, do PP, para a presidência da Câmara, o vezo autoritário do PT o leva a querer um nome interno do partido no cargo. Lançou, assim, o líder do governo Arlindo Chinaglia como candidato, por mais que o comunista de fachada Aldo Rebelo, do PCdoB, tenha atuado como cordeirinho do Planalto após suceder ao deposto deputado cobrador de propinas. Já no Senado, o também aliado incondicional do governo, Renan Calheiros, do PMDB, concorre a uma reeleição sem grandes ameaças, porque seu opositor José Agripino Maia, líder do PFL, não encontra respaldo nem no PSDB, coligado ao seu partido.
No encerramento de uma legislatura marcada como a pior da história pela quantidade de escândalos de corrupção acumulados, para ter de volta alguma esperança de melhora no Parlamento os brasileiros necessitariam ver uma mudança completa nas mesas diretoras da Câmara e do Senado. Precisariam sentir os cargos ocupados por uma bancada de parlamentares acima de qualquer suspeita, sob o comando de presidentes que agissem com mão-de-ferro diante de qualquer erva daninha encontrada no recinto das casas. A biografia política de Rebelo ou Chinaglia, assim como a de Calheiros, não autoriza a prever tal comportamento, se eleitos.
Nada indica, portanto, a julgar por esse aspecto, que a próxima sessão legislativa será melhor que a atual. E o desencanto da população com seus políticos tenderá a crescer ainda mais. No jornal O Estado de S. Paulo de hoje os cientistas políticos José Álvaro Moisés, da USP, e Rachel Meneguello, da Unicamp, afirmam ter constatado em pesquisa por eles realizada agora – A Desconfiança dos Cidadãos das Instituições Democráticas – um completo divórcio entre os graus de confiança dos eleitores em relação à democracia e a instituições como o Congresso Nacional. Enquanto 83% se dizem satisfeitos com o sistema democrático de governo, 59,7% consideram ruim ou péssima a atuação de deputados e senadores. Segundo outros estudos, em 1997 o índice de condenação dos parlamentares era de 32,5%, e em 2000, de 39,7%.
Não há nenhum novo Severino Cavalcanti surgindo como tertius na disputa entre Chinaglia e Rebelo na Câmara. Trata-se, porém, de um consolo magro, porque o balcão de negócios lá instalado em pleno recesso sufoca o movimento suprapartidário autodenominado 'terceira via' para a sucessão na presidência. Um dos líderes do movimento é o deputado Fernando Gabeira, do PV carioca, este, sim, um nome digno de respeito para o cargo.
segunda-feira, 8 de janeiro de 2007
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