quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Osso bom, esse

Parece brincadeira, e de muito mau gosto, a notícia de que o lulo-petismo já se movimenta nos bastidores para viabilizar um terceiro mandato consecutivo do atual presidente, mas não é. Haveria uma brecha legal para tanto. Com o fim do instituto da reeleição, caso ele ocorra por instâncias da própria oposição, todos os possíveis candidatos ao cargo estariam zerados em relação ao passado, de acordo com o conceito de nova lei, nova vida. Como a legislação não pode retroagir, Lula teria então assegurado o seu direito de concorrer, tanto quanto os outros.
A possibilidade de um terceiro mandato foi aventada pelo cientista político Leôncio Martins Rodrigues, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, e também vem sendo discutida como uma ameaça real pelos cardeais do PSDB. O candidato tucano à Presidência nas últimas eleições, Geraldo Alckmin, tinha como uma de suas bandeiras de campanha, como se recorda, o fim da reeleição.
O engraçado é que ninguém no ano passado se lembrou da brecha legal. Nenhum jurista veio a público para alertar os tucanos, nem estes se preocuparam em consultar os especialistas. Resultado: ou se muda o discurso agora, o que ficaria feio, ou se faz o jogo do lulo-petismo. O PSDB vê-se numa sinuca de bico por seu descuido, com perdão do trocadilho.
Já o PT, que antes de chegar ao poder sempre combateu a reeleição, equiparando-a a um crime de lesa-pátria nos tempos do governo Fernando Henrique, igualmente teria de mudar seu discurso, mas isso lhe custa muito pouco. Para quem patrocinou o Mensalão e outras formas de compra de apoio parlamentar, fez vista grossa para a ação dos sanguessugas, arranjou dólares para rechear cuecas, dispôs-se a pagar uma pequena fortuna por um dossiê falso, e ainda despreza como simples 'erros' os crimes cometidos, dar o dito pelo não dito é a menor das dificuldades.
Existe também o exemplo, bem-sucedido na opinião dos petistas, do companheiro Hugo Chávez pelas bandas da Venezuela. Com a ausência da oposição nas últimas eleições formou-se um Congresso maciçamente situacionista, o qual acaba de conferir a Chávez poderes para governar por decreto e concorrer a quantas reeleições quiser. O caudilho já havia revelado sua intenção de não largar o ossinho por pelo menos 30 anos. O Congresso brasileiro não é muito diferente do venezuelano. Até um partido como o PDT, que ontem se destacava na oposição, hoje adere ao governo, seduzido pelas benesses prometidas em troca da venda de sua consciência. E mesmo o Brasil, constatemos a contragosto porque é verdade, não difere em essência das republiquetas de banana coirmãs da América Latina.

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