Como não é todo dia que a Justiça condena alguém a 632 anos de prisão, o coronel Ubiratan Guimarães ganhou notoriedade por ter comandado a invasão do presídio do Carandiru, em São Paulo, pela Polícia Militar, no dia 2 de outubro de 1992, uma sexta-feira, em ação na qual foram mortos 111 detentos. Candidato à reeleição para a Assembléia Legislativa paulista pelo PTB – interessado sobretudo na imunidade parlamentar, como admitiu -, com um número que lembra a chacina, 14.111, o coronel foi encontrado morto em seu apartamento na noite do último domingo, vítima de um tiro no abdome desferido por alguém, a julgar pelos indícios, próximo dele.
Mas alvo preferencial em vida tanto para o PCC quanto para o Movimento Nacional dos Direitos Humanos, obviamente com alguma diferença de métodos e objetivos entre eles, ao invés de principal responsável pelo massacre do Carandiru o coronel pode ter sido o menos culpado. No jornal O Estado de S. Paulo de hoje há um depoimento nesse sentido de Percival de Souza, um jornalista da maior credibilidade, com longa vivência na cobertura de assuntos policiais.
Segundo Percival, Ubiratan sustentava que a ação violenta da tropa foi precipitada por um engano, quando seus comandados o viram sendo carregado, desacordado, depois que um tubo de aparelho de TV explodiu ao lado dele. Tudo o que aconteceu depois se passou sem seu conhecimento, porque permaneceu desacordado. Portanto, não só não desferiu um único tiro como também não deu a ordem para o ataque. Por lealdade a seus subordinados e amigos, no entanto, evitou transferir-lhes a culpa no julgamento e resignou-se com a pesada pena, depois anulada em instância superior. Nas confidências feitas ao jornalista, que pediu para manter guardadas até quando julgasse necessário, admitia os excessos cometidos pelos comandados.
Agora talvez seja o momento de uma revisão de conceito pelos muitos que o condenaram, além do júri. Se o coronel Ubiratan Guimarães era inocente da maioria das acusações que lhe imputaram, não é justo que carregue o fardo até depois de morto.
terça-feira, 12 de setembro de 2006
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