Como já ocorrera em vários capítulos da novela do Mensalão, na qual a sucessão de desmentidos por vezes assumia caráter cômico pela imensa cara-de-pau dos depoentes à CPI dos Correios, o caso atual da compra, pelo PT, de um dossiê difamatório contra o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, adquire contornos de uma farsa orquestrada que produz risos na platéia. A nota oficial do partido sobre o caso, emitida no sábado, mereceu as gargalhadas iniciais. Agora é o assessor especial da Secretaria da Presidência, Freud Godoy, quem se encarrega de dar seqüência à pantomima.
Godoy teve seu nome citado pelo advogado Gedimar Pereira Passos, em depoimento à Polícia Federal, onde está preso, como o emissário do PT que repassou o dinheiro para a compra do dossiê montado pelo chefe dos sanguessugas, o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam. Hoje, não só negou seu envolvimento como também comunicou que se demitiu do cargo em e-mail encaminhado para o titular da secretaria, Gilberto Carvalho, aquele mesmo de um outro célebre caso, o da montagem de um esquema de propinas na Prefeitura de Santo André e do posterior assassinato do então prefeito Celso Daniel. Segundo Godoy, ele teve no máximo uns quatro contatos com Gedimar, depois que o advogado lhe foi apresentado por outra pessoa do partido, para discutir a organização da segurança num comitê (Gedimar atuou, no passado, como agente da Polícia Federal). "Na primeira vez, eu fui somente apresentado a ele pelo pessoal do PT. Depois, nós tratamos de questões da segurança do comitê. Na última vez, eu somente o cumprimentei", afirmou ao repórter Epaminondas Neto, da Folha Online. Assegurou ainda que foram somente contatos "profissionais e esporádicos". Já em entrevista à Rede Globo relatou que recebera um telefonema do próprio presidente Lula, de quem se diz amigo, em busca de esclarecimentos, e o tranqüilizara quanto à sua inocência.
O episódio faz suscitar algumas perguntas. Primeira: que interesse teria Gedimar em apontar Godoy a seus ex-companheiros da Polícia Federal como o portador da mala da dinheiro petista, se isso de fato não ocorreu? Teria sido instruído por alguma instância superior do PT? Segunda: mais importante do que a identidade do portador da mala é o fato de os policiais terem encontrado cerca de 1,75 milhão de reais com Gedimar e seu comparsa, o empreiteiro Valdebran Carlos Padilha da Silva, preso junto com ele. Não é pouco dinheiro. Quem o reuniu, e como, dentro do PT? E terceira: não é possível que um montante desses seja mobilizado para a compra de um dossiê sem que ninguém da direção do partido fique sabendo, ainda mais quando o caixa do PT, como é público e notório, está no vermelho. Esperemos que as apurações da Polícia Federal permitam esclarecer essas dúvidas.
A propósito desse caso, vale ainda registrar a declaração do senador Aloizio Mercadante, concorrente ao governo paulista, de que daria a seu adversário Serra o direito de resposta quanto ao suposto envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Ora, quem tem de responder algo é o próprio senador, já que a compra do dossiê de Vedoin pelo PT destinava-se a beneficiar sua candidatura, e não a de Serra. Por essas e outras é que este episódio, assim como aconteceu nos depoimentos colhidos pela CPI dos Correios sobre o Mensalão, oferece motivos para riso.
segunda-feira, 18 de setembro de 2006
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