A nota divulgada ontem pela direção nacional do PT com a assinatura do presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini, a respeito da prisão em São Paulo de dois intermediários de uma transação com o empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da Planam, empresa que chefiava a máfia dos sanguessugas, é de um cinismo tão inacreditável que mesmo após várias leituras não permite dissipar a impressão de se tratar, na melhor das hipóteses, de peça de ficção do mais genuíno non sense. Como se não bastasse o fato de um dos detidos, o empreiteiro Valdebran Carlos Padilha da Silva, atuar como tesoureiro informal nas campanhas do PT em Mato Grosso, ser ligado ao deputado petista Carlos Abicalil e no momento trabalhar na campanha da senadora petista Serys Slhessarenko ao governo do estado, e de o outro, Gedimar Pereira Passos, ser advogado contratado pelo partido, a nota assinada por Berzoini trata o assunto como se este nada tivesse a ver com a legenda. Valdebran e Gedimar, como se sabe, foram presos pela Polícia Federal sexta-feira passada no Hotel Íbis, localizado em frente ao Aeroporto de Congonhas, portando cada qual uma pequena fortuna em dinheiro vivo: 109 800 dólares e 758 000 reais o primeiro, e 139 000 dólares e 410 000 reais o segundo. Ambos confirmaram que a dinheirama, desta vez pelo menos não escondida em cuecas, foi fornecida pela direção do PT para o pagamento de um dossiê montado por Vedoin para tentar envolver o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, no esquema dos sanguessugas, em trama da qual fez parte uma reportagem publicada na última edição da revista IstoÉ.
"O PT considera graves as novas acusações relativas ao escândalo dos sanguessugas publicadas pela IstoÉ e que envolvem o governo anterior", começa a nota. "Ao contrário dos nossos adversários, não prejulgaremos, mas exigimos a rigorosa e isenta investigação das denúncias, para apurar todas as responsabilidades." Convenhamos que, depois de juntar dinheiro para pagar o dossiê difamatório, é um pouco exagerado o PT exigir a apuração de qualquer coisa por parte das autoridades policiais.
"O PT sempre rejeitou o denuncismo eleitoral e a produção ilegal de dossiês", afirma em seguida o deputado Berzoini na nota. Este caso atual e o anterior, da lista de Furnas, desmentem a afirmação.
"Em relação ao filiado que foi preso pela PF, encaminharei ao Diretório Nacional a aplicação da suspensão cautelar, conforme o estatuto, e abertura de procedimento disciplinar", prossegue Berzoini, em referência ao empreiteiro Valdebran. Não faz mais que sua obrigação, mas pelo que se viu em relação aos mensaleiros do partido o tal procedimento disciplinar só existe para inglês ver.
"Diante da consolidação da liderança de nossa candidatura presidencial e da frustração daqueles que desejaram destruir o PT, não nos surpreende que ocorram episódios dessa natureza, com o objetivo de conturbar a disputa eleitoral, que está sendo conduzida de nossa parte para o debate exclusivamente programático." Este quarto e último trecho da nota é puro non sense. Surpresa como, se o partido negociou a compra do dossiê com o chefão dos sanguessugas, a ponto de pechinchar o preço inicialmente pedido de 20 milhões de reais para algo próximo de 2 milhões? Quanto ao debate programático, é cômodo falar nisso quando Lula, a duas semanas das eleições, sustenta ainda uma dianteira capaz de lhe dar a vitória em turno único. Mas salta aos olhos que se trata também de um ardil, para manter afastado do foco do debate o mar de lama no qual o partido e o atual governo chafurdaram sem a menor cerimônia, em nome de seu projeto de poder.
domingo, 17 de setembro de 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário