
Em resposta ao presidente-candidato Luiz Inácio Lula da Silva, que com sua conhecida imodéstia se comparara na véspera a Jesus Cristo e Tiradentes, os adversários Geraldo Alckmin e Heloísa Helena afirmaram ontem ser ele mais parecido com Judas Iscariotes, o traidor, enquanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, indo mais fundo, o chamou de 'demônio'.
De fato, a situação atual de Lula em nada lembra a de Tiradentes, o mártir da Inconfidência, enforcado por liderar uma resistência contra a derrama de tributos cobrada da colônia pela Coroa portuguesa, e menos ainda a de Cristo, crucificado por pregar não uma insurreição contra Roma, mas apenas a paz entre os homens de boa-vontade. Além disso, ambos foram traídos por somente um dos seguidores ou discípulos, enquanto Lula, se alguém julgar aceitável suas alegações de inocência, estaria sendo entregue à sanha da turba por uma penca de acólitos e comensais.
E, se quisermos ser mais precisos, talvez nem com Judas coubesse a comparação. Corroído pelo remorso, ele depois se enforcou numa árvore, enquanto do atual presidente nunca se ouviu sequer um resquício de mea-culpa diante de todo esse mar de lama que cobriu de opróbrio seu primeiro mandato. A propósito do discípulo que entregou Cristo aos algozes em troca de trinta dinheiros, vale ler o extraordinário romance de Leonid Andreiev (1871-1919), um dos grandes nomes da literatura russa do século passado, Judas Iscariotes. É um livro facilmente encontrável nas lojas.
Ao invés de assumir sua própria responsabilidade, o atual presidente, prestes a ser reeleito, joga toda a culpa nos subordinados. A mais recente vítima dessa manobra é o presidente do PT, Ricardo Berzoini, que só fez o que fez na suposição de agradar o chefe, Lula, e recebeu como paga o desprezo público dele, que ontem o acusou de liderar um 'bando de aloprados' no episódio da compra do dossiê difamatório contra candidatos tucanos.
Quem age assim tem o qualificativo certo. Só um mau-caráter dedura companheiros para obter benefícios, e depois dorme tranqüilo, sem revelar dor de consciência. Isso é ser pior que Judas. Por isso, talvez a comparação mais certa fosse com Barrabás, o ladrão que escapou da crucifixão porque entre ele e Cristo a turba preferiu condenar o segundo, diante de um Pilatos que lavava as mãos.
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