

A dinheirama apreendida pela PF, em reais (acima) e dólares
Em mais uma de suas já incontáveis empulhações, o presidente Lula disse ontem em São Bernardo, no ABC paulista, onde visitou fábricas da Daimler-Chrysler e da Ford, acompanhado do candidato ao governo estadual Aloizio Mercadante, que a atual campanha para a Presidência da República foi marcada pelo "baixo nível dos adversários". Convenhamos que ele seria o último dos candidatos a poder falar em níveis, de compostura ou de ética. Nenhum de seus adversários ousou descer tanto quanto ele como quando falou em matar, esquartejar, salgar a carne e pendurá-la em poste para evitar o apodrecimento, em discurso feito terça-feira passada em Belo Horizonte. Não se concebe tal atentado ao bom gosto num candidato presidencial. E, quanto à ética, após o mar de denúncias lançado contra o seu governo e o seu partido, o PT, desde que o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz foi flagrado achacando um bicheiro, ainda agora, às vésperas da eleição, até uma figura que parecia constituir uma exceção em meio à bandalheira generalizada, o senador Mercadante, se vê envolvida em grave acusação de malversação de recursos. Hamilton Lacerda, seu coordenador de comunicação na campanha até a eclosão do escândalo do dossiê forjado contra políticos do PSDB, não só foi apontado pela Polícia Federal como o homem da mala de dinheiro, na tentativa de compra dos documentos falsos, como é servidor público, lotado na assessoria do Senado Federal, mais exatamente no gabinete do próprio Mercadante. O senador certamente sabia que a Lei 9504/97 proíbe o emprego de servidores pagos com o dinheiro público em campanhas políticas. Mesmo assim recorreu a seus préstimos, em mais uma demonstração de que o PT, por meio de seus ocupantes de cargos públicos, não tem o menor pejo em usar o dinheiro recolhido da população pagadora de impostos como se fosse propriedade particular.
O termo empulhação cabe também à atitude tomada pelo PT de tentar inutilmente impedir a divulgação das fotos da montanha de cédulas de real e dólar apreendida pela PF das mãos dos dois intermediários do partido presos há duas semanas, o empreiteiro Valdebran Carlos Padilha da Silva e o advogado Gedimar Pereira Passos. Como se a exibição das fotos fizesse alguma diferença a esta altura, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, também envolvido diretamente no escândalo do dossiê, pediu ao Tribunal Superior Eleitoral que mandasse retirar do portal do jornal O Estado de S. Paulo as imagens cedidas pela PF e ali mostradas desde a hora do almoço de ontem. O pedido foi negado, mas insistente como um cão de guarda Berzoini prometeu entrar hoje com outro recurso no TSE, agora para tentar impugnar a candidatura presidencial de Geraldo Alckmin, sob a alegação, de uma idiotice de dar pena, de que o PSDB estaria usando indevidamente os veículos de comunicação para prejudicar o presidente-candidato Lula com o caso do dossiê.
Quando faltam argumentos razoáveis, o PT recorre a tecnicalidades como o segredo de Justiça para embasar manobras destinadas a esconder seus malfeitos. Mas esse artifício, de tão contumaz, já não engana ninguém.