"Arlindo Chinaglia condensa o que há de pior no PT", afirma no seu artigo de ontem do jornal O Estado de S. Paulo o escritor e jornalista Gilberto de Mello Kujawski, membro do Instituto Brasileiro de Filosofia. E o que seria esse pior? Segundo Kujawski, "o anacronismo político econômico e social fantasiado de progressismo; a prepotência da opinião, arrogante e massacrante; a mistificação de que os fins justificam os meios; a ambição cega do poder pelo poder, sem nenhuma proposta consistente e construtiva em benefício do país; o aparelhamento geral e irrestrito do governo como 'cosa nostra' do partido; a manipulação inescrupulosa da opinião pública mediante a mentira, a invencionice, a demagogia deslavada; a condescendência injustificável com a corrupção e os escândalos de mensaleiros e sanguessugas, os quais pretende inocentar e trazer de volta ao poder".
"Caviloso, maquiavélico, arrogante", prossegue Kujawski, "se eleito, a primeira coisa que vai fazer será preparar a anistia de José Dirceu, sem sombra de dúvida o homem mais perigoso do Brasil. Suas companhias são de assustar: além de Dirceu, João Paulo Cunha, Professor Luizinho, José Mentor, Valdemar Costa Neto, Severino Cavalcanti, Bruno Maranhão (o invasor da Câmara) e Paulo Maluf."
Ao irrefutável artigo de Kujawski caberia acrescentar, talvez, a informação de que Arlindo Chinaglia fez da promessa de lutar pelo ignominioso aumento de 91% proposto para os parlamentares a principal bandeira de sua campanha.
Pois bem. Com tudo isso, Chinaglia foi eleito ontem o novo presidente da Câmara de Deputados do Brasil, ao derrotar em segundo turno o outro candidato governista, o então presidente da casa Aldo Rebelo, do PCdoB, por 261 votos contra 243. No primeiro turno, quando concorreu também com o oposicionista Gustavo Fruet, do PSDB, obteve 236 votos, contra 175 dados a Rebelo e 98 ao deputado paranaense da oposição. Um pouco antes, no Senado Federal, a disputa já se definira em favor do também aliado incondicional do governo Renan Calheiros, do PMDB alagoano, reeleito por 51 votos a 28, ao derrotar o oposicionista José Agripino, do PFL do Rio Grande do Norte.
O Congresso Nacional, já se ouviu dizer várias vezes, é uma caixa de ressonância da opinião pública prevalecente em questões políticas no país. O resultado das eleições para as presidências da Câmara e do Senado só confirma essa afirmação. Assim como ocorreu na escolha do presidente da República, os piores candidatos venceram. Pelé, afinal, estava certo quando disse que os brasileiros não sabiam votar. Os interesses corporativistas que amesquinham nosso Congresso e o populismo barato que condena nosso povo ao atraso passam como rolos compressores sobre qualquer discurso pelo resgate da ética e da dignidade na política nacional, e o resultado é apresentado como a manifestação da voz das ruas em nossa democracia. Seria ridículo se não fosse trágico, mas é assim mesmo que a maioria dos brasileiros decide sobre o seu futuro. As urnas não mentem.
E lá vamos nós para mais quatro anos do mesmo na nova legislatura da Câmara, iniciada ontem com a posse dos deputados eleitos ou reeleitos, vários deles da turma dos sanguessugas e dos mensaleiros. Se havia alguma esperança de recuperação da desgastada imagem da casa ela se desvaneceu logo no primeiro dia, porque a maioria dos empossados já começou votando no bilioso deputado petista de São Paulo para seu presidente.
Com o blocão de oito partidos formado para apoiar Chinaglia (PT, PMDB, PP, PR, PTB, PSC, PTC e PTdoB), mais o bloquinho de cinco que fechou com Rebelo (PSB, PDT e PCdoB, além dos minúsculos PAN e PMN), o governo Lula conta hoje com nada menos de 341 deputados para aprovar o que quiser na Câmara, de simples decretos e medidas provisórias a emendas constitucionais. A oposição, pobre dela, e também do país, está reduzida a apenas três partidos: PSDB, PFL e PSP. Assim como Hugo Chávez na Venezuela, portanto, Lula pode até governar por decretos, já que o Congresso no Brasil não serve para mais nada a não ser dizer amém ao Executivo. Sendo assim, por que não concordar logo com os 91% de aumento para os deputados e senadores, para torná-los os mais bem pagos do mundo? Afinal, não faz bem ao nosso ego sermos os maiorais, pelo menos em alguma coisa?
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
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