Há muito tempo uma verdade vem se impondo nos confrontos entre europeus e brasileiros em campos de futebol: a de que nossa supremacia nessa área se deve não tanto ao talento individual, mas a uma diferença essencial de comportamento no instante de se definir uma jogada em direção ao gol.
Raramente se vê, de fato, um atacante brasileiro tentando fazer gol de fora da área. Por aqui, até os chamados cabeças-de-bagre procuram aproximar-se mais da meta adversária para o chute conclusivo, ou driblando ou trocando passes com um companheiro. Muitas oportunidades são assim desperdiçadas. Em compensação, os chutes desferidos de dentro da área se tornam muito mais letais. Já os atacantes europeus normalmente não agem assim. Seja por condicionamento técnico e psicológico, seja por simples complexo de inferioridade em relação aos habilidosos brasileiros, chutam de qualquer lugar, e quase sempre erram.
Aconteceu de novo no jogo de ontem, em Tóquio, entre o Barcelona e o Internacional gaúcho, valendo o título mundial interclubes. Havia mais talento no lado espanhol, graças sobretudo às presenças de Ronaldinho Gaúcho e Deco, dois brasileiros. Como os campeonatos europeus estão em pleno andamento e no Brasil se vive o fim de uma temporada, o preparo físico do Barcelona também era superior. Com isso, o domínio de jogo pertencia francamente ao time espanhol. Pouco antes do gol, a traduzir seu maior volume de ações ofensivas, o Barça batia o sétimo escanteio, contra apenas um do Inter. Até aquela altura também construíra mais oportunidades de gol que o rival.
Mas, para seu azar, não tinha Eto'o, machucado. Foi para o jogo com o substituto Gudjohnsen, um típico atacante europeu, que chuta de primeira quando a bola chega. Nada da picardia nem do veneno do africano Eto'o, formado em escola parecida com a brasileira, em sua terra de origem. Poucos antes do único gol da partida, surgiu para o centro-avante do Barcelona uma oportunidade ainda mais clara do que a oferecida para Adriano. Postado na área do Inter, ele podia dominar a bola, olhar para o goleiro, dar uma ginga para desequilibrá-lo e bater na direção de seu contrapé. Um jogador de várzea no Brasil faria isso. Mas não Gudjohnsen, que deu um chutão e mandou a bola por cima da meta.
Um clube milionário como o Barcelona não pode ter apenas um centro-avante de respeito no time, e ficar na mão quando ele se machuca. Já que possui tantos brasileiros no elenco, por que não mais um? Fred, Wagner Love, Nilmar, Adriano (da Internazionale, de Milão), até o gordo Ronaldo, qualquer um deles no lugar de Gudjohnsen teria decidido o jogo em seu favor, ontem, em Tóquio. Um atacante brasileiro poderia perder várias ocasiões de gol. Mas 1 x 0 é mais do que suficiente para se levantar uma taça, como mostrou Adriano, do Inter gaúcho, de alcunha Gabiru.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2006
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