sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A desídia da Anac

Quanto mais se desvendam os eventos antecedentes, no curso das audiências pela CPI instalada no Congresso, mais se conclui que o pavoroso acidente com o Airbus da TAM poderia ter sido evitado se a Anac, a agência reguladora do transporte aéreo, não atuasse de modo tão irresponsável e desidioso por culpa de seu aparelhamento partidário. Foi de estarrecer a revelação feita pela desembargadora Cecília Marcondes de que liberou a pista principal de Congonhas para aviões de grande porte porque recebera das mãos de Denise Abreu, a diretora da agência que na CPI declarou ser o documento apenas de uso interno, a norma posta em vigor para proibir o uso de aeronaves com reverso travado pelas companhias operadoras. Agora se fica sabendo que numa reunião com técnicos do setor em dezembro passado a Anac foi informada do risco iminente de um avião ‘varar’ a pista de Congonhas, ou seja, não conseguir frear a tempo até o fim da pista, em situações de decolagem abortada ou de aterrissagem com velocidade e altura superior às normais. O curioso é que a ata comprometedora da reunião foi revelada pela própria Denise, em novo depoimento dado à CPI, ontem. Candura ou manobra sorrateira para tentar afastar de si as suspeições?

Como se não bastasse, pilotos de onze diferentes aviões contaram à polícia que na véspera do acidente, dia 16 de julho, quando chovia mas não tanto quanto no dia seguinte em São Paulo, enfrentaram dificuldades para pousar em Congonhas. Dois disseram que por pouco não ‘vararam’ a pista, de acordo com reportagem publicada hoje no jornal O Estado de S. Paulo. Um terceiro, que derrapou e foi parar na grama. E todos, que a pista parecia um sabonete de tão escorregadia, por falta do grooving, as ranhuras que só agora estão sendo colocadas.

Mesmo assim o aeroporto estava liberado para pousos e decolagens de aviões de grande porte, porque a desembargadora Cecília, enganada pela diretora Denise, da Anac, derrubou em fevereiro a restrição decretada dias antes pelo juiz Ronald de Carvalho Filho. É evidente, diante de todos esses relatos, que a diretora da agência agiu para favorecer as companhias aéreas, ao invés de fiscalizá-las com rigor, como seria de seu dever. Por que ela o fez? Isso já é assunto de polícia.

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