terça-feira, 28 de agosto de 2007

Vá pegar o seu dinheiro

Se você declarava Imposto de Renda antes de 1983, preste atenção: pode ser que haja um dinheirinho no banco para resgatar.

Resumidamente, a história é a seguinte. Em 1967, o governo militar criou um incentivo fiscal chamado Fundo 157. As pessoas podiam aplicar nesse fundo usando uma pequena parte do imposto devido, no banco de sua escolha. Durante vários anos não era possível resgatar, de modo que muitas pessoas até se esqueceram do assunto depois que o incentivo acabou, em 1983. É claro, também, que apareceu muita empresa aproveitadora, que embolsava o incentivo fiscal e depois quebrava.

Um belo dia, a Receita Federal avisou que uma parte do fundo podia ser resgatada, desde que houvesse decorrido um certo número de anos a partir da aplicação. Algumas pessoas se deram o trabalho de ir ao banco pegar o dinheiro, outras não. O fato é que, hoje, segundo se diz, existem cerca de 500 milhões de reais nos bancos, à espera de resgate por parte dos antigos aplicadores no Fundo 157.

Se você pensa ter algo a ver com essa história toda, vá ao site da Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, autarquia tida como o xerife do mercado financeiro brasileiro. Digite http://www.cvm.gov.br/, e procure no canto direito inferior da home page o espaço Acesso Rápido. Nele, clique em Consulta Fundo 157. Vai abrir uma janelinha para você digitar seu CPF. Pronto: o site mostra os bancos que provavelmente estão com o seu dinheiro, se você ainda não o resgatou.

O resto é com você e o seu gerente de banco.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A desídia da Anac

Quanto mais se desvendam os eventos antecedentes, no curso das audiências pela CPI instalada no Congresso, mais se conclui que o pavoroso acidente com o Airbus da TAM poderia ter sido evitado se a Anac, a agência reguladora do transporte aéreo, não atuasse de modo tão irresponsável e desidioso por culpa de seu aparelhamento partidário. Foi de estarrecer a revelação feita pela desembargadora Cecília Marcondes de que liberou a pista principal de Congonhas para aviões de grande porte porque recebera das mãos de Denise Abreu, a diretora da agência que na CPI declarou ser o documento apenas de uso interno, a norma posta em vigor para proibir o uso de aeronaves com reverso travado pelas companhias operadoras. Agora se fica sabendo que numa reunião com técnicos do setor em dezembro passado a Anac foi informada do risco iminente de um avião ‘varar’ a pista de Congonhas, ou seja, não conseguir frear a tempo até o fim da pista, em situações de decolagem abortada ou de aterrissagem com velocidade e altura superior às normais. O curioso é que a ata comprometedora da reunião foi revelada pela própria Denise, em novo depoimento dado à CPI, ontem. Candura ou manobra sorrateira para tentar afastar de si as suspeições?

Como se não bastasse, pilotos de onze diferentes aviões contaram à polícia que na véspera do acidente, dia 16 de julho, quando chovia mas não tanto quanto no dia seguinte em São Paulo, enfrentaram dificuldades para pousar em Congonhas. Dois disseram que por pouco não ‘vararam’ a pista, de acordo com reportagem publicada hoje no jornal O Estado de S. Paulo. Um terceiro, que derrapou e foi parar na grama. E todos, que a pista parecia um sabonete de tão escorregadia, por falta do grooving, as ranhuras que só agora estão sendo colocadas.

Mesmo assim o aeroporto estava liberado para pousos e decolagens de aviões de grande porte, porque a desembargadora Cecília, enganada pela diretora Denise, da Anac, derrubou em fevereiro a restrição decretada dias antes pelo juiz Ronald de Carvalho Filho. É evidente, diante de todos esses relatos, que a diretora da agência agiu para favorecer as companhias aéreas, ao invés de fiscalizá-las com rigor, como seria de seu dever. Por que ela o fez? Isso já é assunto de polícia.

A velocidade dos dinos


O malvado Velociraptor que aterrorizava criancinhas, no filme de Spielberg

Meu amigo Rodolfo Lucena, editor de Informática da Folha de S. Paulo, mantém um interessante blog no site do jornal a respeito de corridas, praticante que é dessa modalidade esportiva. Entre os posts mais recentes, Lucena falou de uma corrida de mulheres de salto alto em Berlim, na Alemanha, e de homens e mulheres vestidos de Elvis Presley pelas ruas de Minneapolis, nos Estados Unidos, além de publicar uma extensa entrevista com Monica Otero, uma brasileira de 51 anos, mãe de dois filhos e sobrevivente de um câncer do intestino que se tornou a primeira mulher sul-americana a completar a ultramaratona de Badwater, considerada a mais difícil do mundo. Para se ter uma idéia, os participantes dessa corrida percorrem ao todo 217 quilômetros de extensão, ou seja, mais de cinco vezes uma maratona normal. Como se não bastasse, atravessam no caminho o deserto de Mojave, na Califórnia, a uma temperatura de mais de 50 graus centígrados.

Agora o mais impagável mesmo dos posts recentes é o da velocidade dos dinossauros. Vale ler o texto abaixo, transcrito do blog de Lucena, que se chama +Corrida, e pode ser visitado por este link. É injusto classificar informações desse tipo como de cultura inútil. Afinal, todos sabemos como pode faltar assunto quando menos se espera numa reunião social ou numa roda de amigos, não é mesmo?

Meu caro amigo, vivesse você no tempo dos dinossauros e teria de ser um corredor muito, mas muito bom mesmo para conseguir escapar do brutamontes Tiranossauro Rex.

Apesar de seu tamanhão todo, o terrível carnívoro conseguia correr a quase 29 km/h, o que dá pouquinha coisa a mais do que dois minutos por quilômetro, para usar uma medida mais palpável para nosso universo corredor.

Essa foi a conclusão de um estudo realizado na Universidade de Manchester sob o comando do especialista em biomecânica Bill Sellers e do paleontologista Philip Manning.

Eles usaram um supercomputador para tentar determinar as velocidades de cinco tipos de dinossauros bípedes: Compsognathus, Velociraptor, Tyrannosaurus rex, Dilophosaurus e Allosaurus.

De acordo com o modelo desenvolvido, que foi calibrado com base em dados da velocidade de um atleta profissional de 71 kg, o mais rápido foi o Compsognathus.

Pouco conhecido do grande público, esse pequeno ser que viveu há cerca de 1560 milhões de anos tinha apenas 3 kg e uma estrutura óssea semelhante à de um lagarto. Ele conseguia correr cem metros em pouco mais de seis segundos.

Um espécime médio atingia velocidades de até 64 km/h, segundo o estudo publicado em "Proceedings of the Royal Society", o que o torna provavelmente o mais rápido bípede de todos os tempos.

Deixaria no chinelo a superveloz avestruz, a campeã dos seres de duas pernas nos dias de hoje. Segundo o modelo, um exemplar de 65 kg corre a apenas 55,4 km/h.

O Comps (para os íntimos, é claro) também dava um banho no feroz Velociraptor (foto), que foi alçado ao estrelato da violência pelo filme "Parque Jurássico". O malvadão atingia no máximo meros 40 km/h.

Claro que tudo isso é um modelo criado em computador, baseado em expectativas de desempenho de acordo com a estrutura óssea e a musculatura. Há registros de avestruzes de verdade, por exemplo, correndo a mais de 63 km/h.

Ao que os pesquisadores respondem que provavelmente também haveria Comps capazes de desempenho melhor que o previsto pelo supercomputador.


sexta-feira, 10 de agosto de 2007

A queda da bolsa

Se você é investidor e tem parte do seu suado dinheirinho aplicada na bolsa, pode estar se perguntando, a propósito da atual queda: o comprador americano de casa própria resolve dar um calote e sou eu que pago a conta? Pois é disso mesmo que se trata, porque a crise do mercado imobiliário nos Estados Unidos lança uma sombra de incerteza sobre o futuro da economia daquele e de outros países ricos, e por extensão, de todo o planeta, com reflexos inevitáveis nas bolsas de valores. Mas o mais curioso neste momento, em que o mundo torce para que não sobrevenha o pior, é observar o motivo principal da queda no preço das ações.

Pode parecer estapafúrdio, mas acontece o seguinte: assustados com a crise imobiliária americana, os grandes investidores procuram melhorar seu grau de proteção. É natural que o façam, pois bancos internacionais já estão se negando a emprestar dinheiro para as companhias financiadoras de imóveis dos Estados Unidos, e sem crédito a crise nesse mercado só tende a aumentar. E como os grandes investidores se protegem? Vendendo suas posições em ativos no Terceiro Mundo, cujos países são eufemisticamente chamados de emergentes. Ou seja, tiram o dinheiro da bolsa do Brasil e de outros lugares assim e vão comprar o quê? Títulos do Tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo. Entenda bem: o problema surgiu nos Estados Unidos, mas é justamente para lá que correm os grandes investidores em busca de proteção. Não é absurdo, é real. E o investidor brasileiro paga a conta, com a bolsa em queda.

Donde se conclui que pobre nasceu mesmo é para financiar o consumismo dos ricos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Democracia de fachada

Criminosos quase sempre alegam inocência de início, por mais que as evidências reunidas contra eles digam o contrário, e se houver uma brecha tentam lançar a suspeição sobre outros. Da mesma forma, algumas figuras políticas do país fazem pouco da inteligência média dos brasileiros e procuram passar versões conspiratórias nas quais assumem, invariavelmente, o papel de vítimas.

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, especialista na matéria, atribui à oposição um insopitável desejo golpista. O ainda presidente do Senado, Renan Calheiros, infringe o segundo mandamento ao invocar o nome de Deus em vão, ou seja, em favor de sua proclamada inocência. O ministro da Justiça, Tarso Genro, na condição de chefe supremo da Polícia Federal, busca impingir o conto da carochinha de que os dois boxeadores cubanos localizados, presos e deportados em tempo recorde quiseram voltar de moto próprio para a ilha de Fidel e o esperado garrote. E o presidente Lula, cujo apego à figura lingüística ‘nunca-antes-neste-país’ beira o paroxismo, depois de apresentar-se ontem, na capital da Nicarágua, onde pelo menos não enfrenta vaias, como o ‘único presidente’ que nunca se queixou do Congresso, soltou esta pérola, a propósito do Renangate: “Precisamos aprender a conviver com a democracia e com os percalços da democracia, que é boa, às vezes incomoda, mas ainda é o melhor regime para que a gente possa viver tranqüilamente”.

A quem pensam que enganam? A que platéia se dirigem, formada toda ela por néscios e incautos? Pois Dirceu, portador do belo nome dos poemas líricos de Tomás Antônio Gonzaga – embora não ame Marília -, ao contrário do inconfidente mineiro, português de nascimento, longe de conspirar por uma boa causa nunca fez nada senão atentar contra a democracia. É o último, portanto, que pode falar em golpe. Renan, se fosse tão temente a Deus, com certeza exibiria contas mais comprováveis e origens menos nebulosas sobre seus bens. E quanto a Tarso e a Lula, o mínimo que se pode cobrar deles é um pouco mais de seriedade na ocupação de suas funções públicas.

Um afirmar que os cubanos pediram para retornar ao país do qual tentaram fugir, e outro exortar as liberdades democráticas quando na verdade trabalha para destruí-las, seja servindo de patrono a iniciativas petistas como as de montar um Conselho Federal de Jornalismo, reclassificar os cidadãos por critério de raça, acabar com as agências reguladoras e planejar uma Constituinte para moldar um poder virtualmente monopartidário e unipessoal para o futuro, seja ordenando, ou no mínimo admitindo, a deportação sumária de dois estrangeiros em condição regular no país - falta acima de tudo verossimilhança à encenação. Como numa peça de teatro de má qualidade, o espectador não se convence, muito menos se deixa cativar.

No caso dos cubanos, falta esclarecer o essencial. O governo precisa explicar à sociedade por que optou pela deportação sumária, ao arrepio da lei e da Justiça. Precisa ainda dizer por que manteve os dois presos incomunicáveis, longe da imprensa, quando nada havia naquele momento que pudesse prejudicar uma investigação policial. E precisa, por fim, definir em qual ou quais situações outras deportações desse tipo poderão ocorrer, por iniciativa do governo e contrariando convenções internacionais.

Enquanto não se esclarecer a questão, o Brasil viverá em insegurança jurídica, própria de regimes ditatoriais. E exortações democráticas, venham de quem vier, soarão falsas e sem conteúdo.

domingo, 5 de agosto de 2007

Lula, Hitchcock e Doris Day


Cartaz do filme de 1956, de Hitchcock

O editorial de ontem do Estadão, no qual o jornal critica a atitude do presidente Lula de sempre alegar desconhecimento para livrar-se de responsabilidades - O homem que sabia de menos -, começa logo no título com uma feliz inversão do nome de um filme famoso de Alfred Hitchcock, O Homem que Sabia Demais (The Man Who Knew Too Much, de 1956, refilmagem da versão original, de 1934, do mesmo diretor). A alusão é perfeita, porque se Lula diz nunca saber de nada para evitar complicações, o pacato turista interpretado por James Stewart no filme só enfrenta problemas, para ele e a família, depois de ouvir involuntariamente a confidência de um moribundo, esfaqueado por seus comparsas terroristas, no Marrocos, sobre um plano de assassinato de um figurão político em Londres, em meio a um concerto no Royal Albert Hall.

Mas, com todas as suas qualidades, o filme de Hitchcock é mais lembrado hoje pela música cantada por Doris Day, Que Sera, Sera, um clássico de Jay Livingston e Ray Evans, premiado com o Oscar de melhor canção em 1957. Doris celebrizou-se pelos papéis de loura ingênua nas comédias que fez com Rock Hudson em fins dos anos 50, a ponto de Grouxo Marx afirmar que a conhecera ‘quando ela ainda não era virgem’. Pura maldade, porque mais do que ótima atriz ela era excepcional cantora, uma das artistas mais luminosas da constelação de talentos que imortalizou uma época de ouro da grande canção americana – e que, como tal, merecia um pouco mais de respeito.

Quando menina, Doris Mary Ann von Kappelhoff, filha de pais alemães divorciados, nascida em 3 de abril de 1924 em Cincinatti, Ohio, queria ser bailarina. Aos 14, no entanto, sofreu um grave acidente automobilístico que a obrigou a abandonar o sonho. O mundo perdeu uma bailarina, talvez com talento, mas ganhou uma cantora soberba. Aos 16 anos Doris já estreava como crooner na banda de Les Brown, e nas três décadas que se seguiram gravou um extenso repertório de clássicos, trafegando entre o jazz e o pop tradicional.

Um rápido apanhado dá uma idéia da riqueza de sua discografia. Além de Que Sera, Sera e de Secret Love, de Sammy Fain e Paul Francis Webster, outra canção premiada com o Oscar, do filme em que ela interpretou a pistoleira, no bom sentido, Jane Calamidade, em Ardida como Pimenta (Calamity Jane, de 1953), Doris gravou ao longo de sua carreira musical as seguintes, entre outras obras-primas da canção americana legítima e peças importadas: Autumn Leaves (de Joseph Kosma), Night and Day (de Cole Porter), April in Paris, I Love Paris (também de Porter), Bewitched, Blue Moon, By the Light of the Silvery Moon, Domino, Dream a Little Dream of Me, Fascination, I’m in the Mood for Love, It Had to be You, It’s Magic, My Blue Heaven, Sentimental Journey, Serenade in Blue, Stardust (de Hoagy Carmichael e Mitchell Parish), You’ll Never Know, September Song e Summertime. Não há como não se emocionar com a sensibilidade demonstrada por Doris na sublime Domino, de Louis Ferrari e Jacques Plante, vertida para o inglês por Don Raye, ou com sua técnica impecável no dueto histórico com Bing Crosby em Baby, It’s Cold Outside. Outro grande dueto seu foi com Frankie Laine, em Sugarbush.

Se você é jovem demais para ter visto ou ouvido Doris Day, ou se tem idade para querer apreciá-la de novo, clique aqui para ver os vídeos postados no YouTube, Que Sera, Sera, com cenas do filme, e um clipe caseiro com Baby, It’s Cold Outside ao fundo. E em tempo: como diz a legenda do cartaz antigo de O Homem que Sabia Demais, às vezes conhecer algo, mesmo que pouco, pode trazer um grande perigo. É o que deve pensar Lula.

sábado, 4 de agosto de 2007

Negócio bilionário

Com a compra, inesperada pelo mercado, da Suzano Petroquímica por 2,7 bilhões de reais, em seqüência à participação adquirida no grupo Ipiranga, em conjunto com a Braskem e a Unipar, num negócio de 4 bilhões de dólares, a Petrobrás se recoloca como um dos protagonistas da indústria petroquímica no país. Ela, que liderou a implantação dessa indústria no Brasil por meio de sua ex-subsidiária Petroquisa, criada 40 anos atrás, praticamente se afastou da área na década de 90, por decisão governamental.

No final dos 80, para se ter uma idéia, a Petroquisa, incorporada à Petrobrás em 2006, participava de 36 empresas, que no conjunto respondiam por mais de 70% da produção de petroquímicos no país. A Petroquisa atuou também como o elemento catalisador na criação dos três pólos petroquímicos regionais, em São Paulo, na Bahia e no Rio Grande do Sul. Entre 1992 e 1997, com o Programa Nacional de Desestatização, a companhia se desfez da maioria de suas participações em outras empresas. Mas agora, com a aquisição da Suzano Petroquímica, fabricante de polipropileno, matéria-prima plástica, a Petrobrás volta a controlar quase um terço da indústria petroquímica no Brasil, segundo O Estado de S. Paulo.

Bom para a Petrobrás e para seus acionistas, embora, segundo alguns especialistas, a estatal tenha pago 2,7 bilhões por uma empresa que valia, no máximo, 1,5 bilhão de reais. “A precificação de mercado é uma coisa momentânea e, para nós, essa aquisição é uma estratégia de longo prazo”, explicou Flávio Valadão, representante do banco ABN Amro, instituição intermediária na transação, em nome da Petrobrás. O que é péssimo é que, novamente, segundo noticia o Estadão, houve vazamento de informação privilegiada, assim como no caso Ipiranga. A Comissão de Valores Mobiliários, CVM, já está à caça das pessoas que se valeram da antecipação interna da notícia da compra da Suzano Petroquímica para investirem em suas ações na bolsa. A prática do crime de inside information dá cadeia nos Estados Unidos. Aqui, no máximo, resulta em multa.