O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso continua a ser a voz mais iluminada e consciente da oposição. Deu novamente uma mostra disso, ao ser procurado por repórteres ao final da palestra que proferiu ontem na Associação Comercial do Rio, sob o tema A reinvenção do futuro das grandes metrópoles e a nova agenda de desenvolvimento econômico e social da América Latina.
Fernando Henrique não só repudiou a forma como o governo atual tenta abrir um canal de diálogo com a oposição – "Qualquer discussão fora do Congresso tem um certo cheiro de cooptação, de chamar para amortecer. E aí eu não gosto", afirmou – como fez uma dura crítica ao seu próprio partido, o PSDB, por este ter abandonado bandeiras programáticas na última campanha presidencial. "Não houve uma proposta nítida que dissesse que nós somos diferentes, defendemos isso e isso, queremos tais coisas", declarou, segundo a reportagem de Wilson Tosta no jornal O Estado de S. Paulo de hoje. "Nem a privatização fomos capazes de defender. Privatizamos o que precisava ser privatizado, foi um êxito e nós não dissemos isso. A culpa é muito mais nossa do que da população."
De fato, durante a campanha o PSDB reagiu como o otário da anedota à malandragem petista de transformar as privatizações numa espécie de maracutaia montada para enriquecer uns poucos à custa da nação. Além de não mostrar que se tratava de uma torpe mentira, destinada tão-somente a angariar votos junto aos incautos e desinformados, não apresentou um número sequer, dos muitos que há, a respeito dos benefícios trazidos ao país pela privatização de empresas estatais ineficientes e onerosas. Pior: tentou convencer o eleitorado de que um futuro governo Alckmin não venderia ao setor privado o Banco do Brasil, a Petrobrás e a Caixa Econômica Federal, quando o correto, de acordo com o programa do partido, teria sido dizer que qualquer estatal, dependendo das circunstâncias, poderia ser privatizada. Em outras palavras, vestiu a carapuça e permitiu ao adversário meter-lhe um gol pelo meio das pernas.
O PSDB foi castigado por desprezar o primeiro ensinamento de qualquer manual de estratégia: nunca fazer o jogo do inimigo. Mas não parece ter aprendido a lição. Vários de seu integrantes, como o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, substituíram o discurso oposicionista por tapinhas no traseiro, na relação com o Planalto. Agem como se Lula se tivesse transformado numa entidade com poderes sobrenaturais, merecedora de vassalagem por todos que pensem em sucedê-la no poder.
Como o eleitor poderá escolher, se a oposição se confunde com a situação numa massa amorfa, sem propostas alternativas? Com a falta de caráter e compostura que é sua maior marca, o atual governo já montou uma base de apoio de tamanho suficiente para atuar como rolo compressor nas votações do Congresso. Não precisa da leniência da oposição.
A eleição acabou há quase cinco meses, é hora de despertar da letargia. Os partidos da oposição, e o PSDB em particular, não podem deixar que Fernando Henrique continue a clamar solitário no deserto. Não podem permitir que seu sucessor, o presidente-camaleão, como o definiu o jornal O Estado de S. Paulo em referência ao vergonhoso rapapé de Lula enaltecendo políticos do PMDB como Jader Barbalho e Orestes Quércia, que ele próprio vituperava com os piores nomes em passado não muito distante, continue nadando de braçada, impune, senão pelos desmandos, ao menos por suas agressões à verdade dos fatos.
sábado, 14 de abril de 2007
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