Os deputados que trocaram a oposição pela situação seduzidos por promessas de vantagens e cargos devem agora estar, para usar uma expressão antiga, com a pulga atrás da orelha. O motivo é que o Tribunal Superior Eleitoral, TSE, em resposta a uma consulta formulada pelo até ontem Partido da Frente Liberal (PFL), agora simplesmente Democratas (DEM), entendeu pertencer o mandato parlamentar à legenda e não ao eleito, nas eleições proporcionais para deputado federal ou estadual e para vereador. O TSE abriu caminho, assim, para os partidos requererem de volta as vagas perdidas na Câmara dos Deputados com o troca-troca de seus eleitos infiéis. E estes, caso as legendas obtenham sucesso no pedido, o que parece certo diante do parecer dado anteontem pelo TSE, perderiam o mandato para os suplentes.
A manifestação da corte, integrada entre outros por três ministros do Supremo Tribunal Federal, STF, um dos quais, Marco Aurélio Mello, é o próprio presidente do TSE, colheu de surpresa as hostes governistas na Câmara. Em alegre confraria, festejando a recente filiação de 36 deputados que tinham sido eleitos em outubro do ano passado por outros partidos, ao saber da decisão do tribunal passaram do riso aos protestos e lamentações. Afinal, como se sabe, não é fácil manter unida uma base de apoio ao governo, hoje no Brasil. Custa mensalões, ambulâncias superfaturadas e distribuição de milhares de cargos de confiança bem remunerados junto com a titularidade de alguns ministérios.
Mas um recurso ao STF como o aventado ontem pelo presidente da Câmara, o petista Arlindo Chinaglia, deverá ter pouca serventia, porque tudo indica que a corte suprema manterá a palavra do TSE, até pelo fato de ministros seus integrarem o tribunal eleitoral. Outra saída para os governistas seria editar uma nova lei para consagrar a prática escandalosa da infidelidade partidária, na contramão de tudo o que se preconiza para a reforma política, mantido em banho-maria no Congresso por falta de interesse dos parlamentares governistas em moralizar o que quer que seja em sua seara. A iniciativa também tem duvidosas chances de êxito, pela grita que despertará na opinião pública.
Assim, os governistas vêem-se numa sinuca de bico, e a menos que encontrem uma forma de sair dela a aprovação de medidas do Executivo tende a tornar-se mais difícil do que esperavam. Depois de atrair as ratazanas de partidos de fora da base, o governo conta hoje com uma folgada maioria de 376 deputados num total de 513 da Câmara. Mas se os partidos da oposição, PSDB, DEM, PPS e também o PDT, que pelo menos na prática ainda não mostrou ser da situação, embora tenha anunciado a mudança de lado, recuperarem as vagas perdidas, o quadro muda de figura.
quinta-feira, 29 de março de 2007
quarta-feira, 28 de março de 2007
Um novo confisco
Poucas vezes há de ter ocorrido na história da República, afora o grande assalto ao bolso da população com o confisco da poupança por ordem do então presidente Fernando Collor, um episódio como o atual em que um governo democraticamente eleito faça de forma tão descarada o jogo de uma categoria empresarial, no caso, a dos banqueiros, contra os interesses maiores da coletividade. O governo Lula, assim, falta com seu dever primordial, que é o de proteger o povo, a maioria, contra os atentados à sua segurança, de ordem pessoal ou econômica, que possam ser cometidos por uma minoria.
O que está em curso é uma espécie de segundo confisco da poupança da população. Para se ter uma idéia do tamanho da maroteira, calcula-se, segundo alguns especialistas consultados pela repórter Márcia De Chiara, do jornal O Estado de S. Paulo, que os bancos públicos e privados estão devendo cerca de 1,9 trilhão de reais em indenizações aos poupadores, por conta de correções monetárias a menor feitas nos planos heterodoxos de combate à inflação Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991). Esse valor corresponde a cerca de um ano todo de PIB brasileiro, ou seja, algo como 900 bilhões de dólares em moeda atual. E o direito a ter esse ressarcimento é líquido e certo para os poupadores em geral, porque resulta de muitas ações judiciais já transitadas em julgado, com ganho de causa dado aos impetrantes contra os bancos.
Em tal circunstância, como um governo digno desse nome deveria agir? Obviamente, em primeiro lugar alertando a população sobre o fato. Em segundo, instruindo-a sobre os procedimentos necessários. Em terceiro, assumindo a ação coletiva, como defensor da população, colocando em jornais, revistas e sites um formulário a ser preenchido e entregue a algum órgão público para que este o encaminhe aos bancos. E, em quarto, mandando os bancos pagarem o que devem.
Mas alguém viu ou ouviu alguma declaração de um ministro do governo sobre isso? Leu algum anúncio colocado em site, jornal ou revista? Recebeu alguma instrução a respeito? Certamente que não. O governo se omite e cala, o que é sinônimo de proteger os banqueiros, em vez da população. E os banqueiros, para defender seus régios lucros, hoje maiores do que em qualquer outra época no país, também ficam mudinhos, com cara de santo. Nenhum comunicado aos clientes, de quem tomam tanto dinheiro. Só se mexem quando o poupador vai a uma agência reclamar seus direitos, pedindo uma cópia da microfilmagem dos extratos de contas de poupança mantidas em determinados períodos dos planos heterodoxos. Mas não de graça, claro. Cobram 7 reais por folha de extrato.
O titular das contas de caderneta ainda tem de munir-se de muita paciência para obter o ressarcimento. Com as cópias dos extratos na mão, precisa contratar um advogado especializado e esperar durante cerca de longos três anos até a ação ser julgada. O dinheiro também não lhe chega por inteiro. Os honorários de um bom advogado estão na faixa de 20 a 25% do valor total da indenização. Alguns bancos oferecem um acordo para que o cliente possa ter abreviado o tempo de espera. Mas aí, além dos honorários advocatícios, o cliente paga mais 10% para o banco.
De toda forma, como pouco é melhor que nenhum, vale a pena ir atrás. Afinal, se você possuía caderneta de poupança naqueles períodos, o dinheiro é seu.
Aliás, não só a caderneta de poupança. O problema da correção monetária a menor afetou igualmente o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o FGTS dos trabalhadores assalariados, porque o indexador utilizado para ambos sempre foi o mesmo, antigamente a ORTN, e depois a TR. Mas sobre isso o mutismo é ainda maior, já que a obrigação pelo pagamento passa a ser diretamente do governo.
Não custa lembrar, mais uma vez. Esse governo que aí está foi eleito por um partido que se diz dos trabalhadores. Imaginem o que faria se outro nome o partido tivesse.
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
O passo-a-passo a seguir, de instruções para os poupadores, foi copiado da reportagem de Márcia De Chiara, publicada no caderno de Economia do Estadão do dia 20 de março último:
"Agência – Procurar a agência bancária na qual tinha poupança em 1987, 1989, 1990 e 1991.
Documentos – Munido de CPF e RG redigir um requerimento para o banco solicitando a microfilmagem do extrato da poupança para os seguintes períodos: junho e julho de 1987; janeiro e fevereiro de 1989; abril e maio de 1990; janeiro, fevereiro e março de 1991. (Comentário do blog: se você conhece o gerente do banco, peça a ele, não precisa redigir o requerimento.)
Comprovante – Exigir o protocolo da solicitação. O banco não pode cobrar mais do que 7 reais por folha de extrato. (Comentário: este procedimento também não é necessário se você conhece o gerente. Só não dá para evitar a tarifa.)
Profissional – De posse dos extratos, o poupador deve procurar um advogado especializado para entrar com o processo.
Cálculo – Se o saldo da poupança na época for de até 14 000 reais (40 salários mínimos), ou de até 21 000 reais (60 salários), o processo poderá correr no juizado especial estadual e federal, respectivamente, sem advogado. Nesse caso, o poupador tem de saber fazer o cálculo da correção a que tem direito. (Comentário: o cálculo é praticamente impossível para os leigos. De 1987 para cá, não só a moeda nacional mudou três vezes de nome como os índices de inflação adotados oficialmente, e que deram base à correção monetária, variaram entre INPC, IPC, de novo INPC e depois IPCA. Para se fazer a correção é preciso montar um número-índice com mudanças para os diferentes índices de inflação no mês exato de sua adoção. Outro complicador para se chegar às cifras em real é que, em 1990, no Plano Collor 1, o valor da moeda foi dividido por 1 000 uma segunda vez. A primeira tinha sido em 1986, com o Plano Cruzado.)
Valor – Em caso de processo comum, as custas ficam em torno de 1% do valor da causa, com pagamento na entrada do processo.
Honorários – Os honorários advocatícios variam de 20% a 25% do valor da causa, pagos quando o poupador recebe o dinheiro."
Enfim, vá ao banco e boa sorte. Neste caso, como em outros, você estará sozinho, porque esse governo que aí está prefere ficar do lado dos poderosos. Povo, para ele, só serve para apertar os botões da maquininha eletrônica nas eleições.
O que está em curso é uma espécie de segundo confisco da poupança da população. Para se ter uma idéia do tamanho da maroteira, calcula-se, segundo alguns especialistas consultados pela repórter Márcia De Chiara, do jornal O Estado de S. Paulo, que os bancos públicos e privados estão devendo cerca de 1,9 trilhão de reais em indenizações aos poupadores, por conta de correções monetárias a menor feitas nos planos heterodoxos de combate à inflação Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990) e Collor 2 (1991). Esse valor corresponde a cerca de um ano todo de PIB brasileiro, ou seja, algo como 900 bilhões de dólares em moeda atual. E o direito a ter esse ressarcimento é líquido e certo para os poupadores em geral, porque resulta de muitas ações judiciais já transitadas em julgado, com ganho de causa dado aos impetrantes contra os bancos.
Em tal circunstância, como um governo digno desse nome deveria agir? Obviamente, em primeiro lugar alertando a população sobre o fato. Em segundo, instruindo-a sobre os procedimentos necessários. Em terceiro, assumindo a ação coletiva, como defensor da população, colocando em jornais, revistas e sites um formulário a ser preenchido e entregue a algum órgão público para que este o encaminhe aos bancos. E, em quarto, mandando os bancos pagarem o que devem.
Mas alguém viu ou ouviu alguma declaração de um ministro do governo sobre isso? Leu algum anúncio colocado em site, jornal ou revista? Recebeu alguma instrução a respeito? Certamente que não. O governo se omite e cala, o que é sinônimo de proteger os banqueiros, em vez da população. E os banqueiros, para defender seus régios lucros, hoje maiores do que em qualquer outra época no país, também ficam mudinhos, com cara de santo. Nenhum comunicado aos clientes, de quem tomam tanto dinheiro. Só se mexem quando o poupador vai a uma agência reclamar seus direitos, pedindo uma cópia da microfilmagem dos extratos de contas de poupança mantidas em determinados períodos dos planos heterodoxos. Mas não de graça, claro. Cobram 7 reais por folha de extrato.
O titular das contas de caderneta ainda tem de munir-se de muita paciência para obter o ressarcimento. Com as cópias dos extratos na mão, precisa contratar um advogado especializado e esperar durante cerca de longos três anos até a ação ser julgada. O dinheiro também não lhe chega por inteiro. Os honorários de um bom advogado estão na faixa de 20 a 25% do valor total da indenização. Alguns bancos oferecem um acordo para que o cliente possa ter abreviado o tempo de espera. Mas aí, além dos honorários advocatícios, o cliente paga mais 10% para o banco.
De toda forma, como pouco é melhor que nenhum, vale a pena ir atrás. Afinal, se você possuía caderneta de poupança naqueles períodos, o dinheiro é seu.
Aliás, não só a caderneta de poupança. O problema da correção monetária a menor afetou igualmente o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o FGTS dos trabalhadores assalariados, porque o indexador utilizado para ambos sempre foi o mesmo, antigamente a ORTN, e depois a TR. Mas sobre isso o mutismo é ainda maior, já que a obrigação pelo pagamento passa a ser diretamente do governo.
Não custa lembrar, mais uma vez. Esse governo que aí está foi eleito por um partido que se diz dos trabalhadores. Imaginem o que faria se outro nome o partido tivesse.
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
O passo-a-passo a seguir, de instruções para os poupadores, foi copiado da reportagem de Márcia De Chiara, publicada no caderno de Economia do Estadão do dia 20 de março último:
"Agência – Procurar a agência bancária na qual tinha poupança em 1987, 1989, 1990 e 1991.
Documentos – Munido de CPF e RG redigir um requerimento para o banco solicitando a microfilmagem do extrato da poupança para os seguintes períodos: junho e julho de 1987; janeiro e fevereiro de 1989; abril e maio de 1990; janeiro, fevereiro e março de 1991. (Comentário do blog: se você conhece o gerente do banco, peça a ele, não precisa redigir o requerimento.)
Comprovante – Exigir o protocolo da solicitação. O banco não pode cobrar mais do que 7 reais por folha de extrato. (Comentário: este procedimento também não é necessário se você conhece o gerente. Só não dá para evitar a tarifa.)
Profissional – De posse dos extratos, o poupador deve procurar um advogado especializado para entrar com o processo.
Cálculo – Se o saldo da poupança na época for de até 14 000 reais (40 salários mínimos), ou de até 21 000 reais (60 salários), o processo poderá correr no juizado especial estadual e federal, respectivamente, sem advogado. Nesse caso, o poupador tem de saber fazer o cálculo da correção a que tem direito. (Comentário: o cálculo é praticamente impossível para os leigos. De 1987 para cá, não só a moeda nacional mudou três vezes de nome como os índices de inflação adotados oficialmente, e que deram base à correção monetária, variaram entre INPC, IPC, de novo INPC e depois IPCA. Para se fazer a correção é preciso montar um número-índice com mudanças para os diferentes índices de inflação no mês exato de sua adoção. Outro complicador para se chegar às cifras em real é que, em 1990, no Plano Collor 1, o valor da moeda foi dividido por 1 000 uma segunda vez. A primeira tinha sido em 1986, com o Plano Cruzado.)
Valor – Em caso de processo comum, as custas ficam em torno de 1% do valor da causa, com pagamento na entrada do processo.
Honorários – Os honorários advocatícios variam de 20% a 25% do valor da causa, pagos quando o poupador recebe o dinheiro."
Enfim, vá ao banco e boa sorte. Neste caso, como em outros, você estará sozinho, porque esse governo que aí está prefere ficar do lado dos poderosos. Povo, para ele, só serve para apertar os botões da maquininha eletrônica nas eleições.
quinta-feira, 22 de março de 2007
O cérebro dos políticos
Instigante reportagem publicada hoje na versão on-line do jornal Folha de S. Paulo, de autoria de Rafael Garcia, diz que um estudo divulgado nos Estados Unidos concluiu que o cérebro humano é dotado de uma espécie de órgão universal da ética, livre de influências culturais, no córtex frontal ventromedial, área de onde se originam as reações de cunho emocional.
Para realizar o estudo, o psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade Harvard, e o neurologista português António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia, lideraram uma equipe que submeteu diversos voluntários a um teste de perguntas morais relacionadas, algumas delas, a situações extremas, com a participação no grupo de seis portadores de lesão no córtex frontal ventromedial. O resultado do teste mostrou que estes últimos tendem a pensar de modo mais 'utilitário' que os demais, ou seja, enquanto os outros manifestam uma evidente dificuldade de escolha entre, por exemplo, o sacrifício de um filho e a salvação de várias pessoas, os portadores de lesão optam com frieza pela decisão que pouparia mais vidas.
Uma das perguntas feitas aos voluntários referia-se a uma situação imaginária na qual famílias estão escondidas num porão, com soldados inimigos em sua caça próximos delas, e um bebê começa a chorar. O que fazer? Permitir a descoberta do esconderijo ou tapar a respiração da criança por tempo suficiente para matá-la, para evitar que chorasse? Os portadores de lesão no córtex responderam que o correto seria matar a criança.
"Como os pacientes com a lesão que estudamos presumivelmente carecem de emoções sociais ou morais apropriadas, seus julgamentos são mais baseados em considerações utilitárias do que em fatores emocionais", explicou Michael Koenigs, um dos colaboradores de Hauser e Damásio, ao repórter da Folha. Isso não significa, segundo Koenigs, que essas pessoas se tornaram más ou cruéis. Apenas tendem a tomar suas decisões de modo mais calculista e frio, porque para perguntas situadas em contextos normais, não limítrofes, suas respostas foram semelhantes às dos demais participantes da pesquisa.
Os professores Hauser e Damásio cometeram apenas uma falha em seu estudo, talvez de propósito: não incluíram entre os voluntários pesquisados alguns representantes dos políticos brasileiros. Se o tivessem feito, provavelmente concluiriam que há um grupo de pessoas com problema congênito no córtex frontal ventromedial, e que em qualquer situação age somente de acordo com seus próprios interesses.
ooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
Muitos políticos brasileiros, talvez a maioria, pautam suas ações pelo fisiologismo mais rasteiro, dando uma banana aos pruridos éticos e à coerência ideológica. Basta ver o que acontece na atual reforma ministerial. Na melhor tradição de mensaleiros e sanguessugas, consciências se vendem por trinta dinheiros, inimigos de ontem se tornam comensais hoje e ex-aliados tidos como fiéis mudam de banda por interesses contrariados. Um personagem emblemático, embora não ministeriável, pelo menos por ora, é o ex-presidente Collor. Chamado de ladrão por Lula não há muito tempo e, depois de devolver-lhe a ofensa qualificando-o de chefe de quadrilha no primeiro mandato do presidente petista, Collor ontem declarou-se emocionado por ser recebido por Lula no Planalto, com outros parlamentares de seu partido, o PTB. Desculparam-se ambos pelo respectivo destempero no passado? Não se sabe, porque se o fizeram isso não veio a público. Mas, se não o fizeram, é muito feio, porque agem com uma caradura de deixar enrubescido um monge de pedra.
Após ter votado em peso contra o governo na véspera, na tentativa de instalação da CPI do Apagão Aéreo pela oposição, o PDT ontem apoiou o recurso do PT que sepultou a iniciativa. O PT na oposição, como se lembra, sempre foi um campeão em pedidos de CPI. Só durante a gestão do tucano Geraldo Alckmin no governo de São Paulo quis instalar mais de 60. Motivo da transmutação do PDT: um emissário do Planalto fez saber ao partido que perderia o prometido Ministério da Previdência, caso mantivesse sua posição.
No outro extremo, o adesista de carteirinha Ciro Gomes, do PSB, votou contra a CPI de novo, juntamente com a colega Luiza Erundina. Motivo: seu partido perdeu a pasta da Integração Nacional, ocupada pelo próprio Ciro durante o primeiro mandato de Lula. E o afilhado político de Ciro, Pedro Brito, que vinha ocupando o Ministério, ficou a ver navios, porque Lula já escolheu Geddel Vieira Lima, do PMDB, como novo ministro. Geddel, como todos sabem, foi um dos mais contundentes críticos do petismo quando o presidente do país era Fernando Henrique Cardoso.
Para não deixar o PSB ao relento, Lula pensa em retirar do Ministério dos Transportes o setor de portos e aeroportos, para abrigá-lo numa Secretaria com status de Ministério. Seria a 35.a pasta ministerial do governo, número que dá uma idéia do apetite dos políticos brasileiros por cargos e benesses usufruídos com o dinheiro público. Mas aqui Lula encontra a resistência do PR, o ex-PL de Valdemar Costa Neto, aquele que vendeu o partido ao governo por 10 milhões de reais, conforme ele próprio confessou antes de renunciar ao mandato para não ser cassado. O PR, a quem o Ministério dos Transportes está prometido, não admite receber uma pasta com menos cargos do que no figurino original.
E assim la nave va. A maioria dos políticos cuida primeiro de si, como prova a votação do nababesco aumento salarial de 91% para os parlamentares federais, a ser realizada possivelmente ainda hoje. Quanto aos interesses dos eleitores, bem, mas isso é hora de lembrar-se deles quando o assunto em pauta é encher o próprio bolso?
Para realizar o estudo, o psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade Harvard, e o neurologista português António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia, lideraram uma equipe que submeteu diversos voluntários a um teste de perguntas morais relacionadas, algumas delas, a situações extremas, com a participação no grupo de seis portadores de lesão no córtex frontal ventromedial. O resultado do teste mostrou que estes últimos tendem a pensar de modo mais 'utilitário' que os demais, ou seja, enquanto os outros manifestam uma evidente dificuldade de escolha entre, por exemplo, o sacrifício de um filho e a salvação de várias pessoas, os portadores de lesão optam com frieza pela decisão que pouparia mais vidas.
Uma das perguntas feitas aos voluntários referia-se a uma situação imaginária na qual famílias estão escondidas num porão, com soldados inimigos em sua caça próximos delas, e um bebê começa a chorar. O que fazer? Permitir a descoberta do esconderijo ou tapar a respiração da criança por tempo suficiente para matá-la, para evitar que chorasse? Os portadores de lesão no córtex responderam que o correto seria matar a criança.
"Como os pacientes com a lesão que estudamos presumivelmente carecem de emoções sociais ou morais apropriadas, seus julgamentos são mais baseados em considerações utilitárias do que em fatores emocionais", explicou Michael Koenigs, um dos colaboradores de Hauser e Damásio, ao repórter da Folha. Isso não significa, segundo Koenigs, que essas pessoas se tornaram más ou cruéis. Apenas tendem a tomar suas decisões de modo mais calculista e frio, porque para perguntas situadas em contextos normais, não limítrofes, suas respostas foram semelhantes às dos demais participantes da pesquisa.
Os professores Hauser e Damásio cometeram apenas uma falha em seu estudo, talvez de propósito: não incluíram entre os voluntários pesquisados alguns representantes dos políticos brasileiros. Se o tivessem feito, provavelmente concluiriam que há um grupo de pessoas com problema congênito no córtex frontal ventromedial, e que em qualquer situação age somente de acordo com seus próprios interesses.
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Muitos políticos brasileiros, talvez a maioria, pautam suas ações pelo fisiologismo mais rasteiro, dando uma banana aos pruridos éticos e à coerência ideológica. Basta ver o que acontece na atual reforma ministerial. Na melhor tradição de mensaleiros e sanguessugas, consciências se vendem por trinta dinheiros, inimigos de ontem se tornam comensais hoje e ex-aliados tidos como fiéis mudam de banda por interesses contrariados. Um personagem emblemático, embora não ministeriável, pelo menos por ora, é o ex-presidente Collor. Chamado de ladrão por Lula não há muito tempo e, depois de devolver-lhe a ofensa qualificando-o de chefe de quadrilha no primeiro mandato do presidente petista, Collor ontem declarou-se emocionado por ser recebido por Lula no Planalto, com outros parlamentares de seu partido, o PTB. Desculparam-se ambos pelo respectivo destempero no passado? Não se sabe, porque se o fizeram isso não veio a público. Mas, se não o fizeram, é muito feio, porque agem com uma caradura de deixar enrubescido um monge de pedra.
Após ter votado em peso contra o governo na véspera, na tentativa de instalação da CPI do Apagão Aéreo pela oposição, o PDT ontem apoiou o recurso do PT que sepultou a iniciativa. O PT na oposição, como se lembra, sempre foi um campeão em pedidos de CPI. Só durante a gestão do tucano Geraldo Alckmin no governo de São Paulo quis instalar mais de 60. Motivo da transmutação do PDT: um emissário do Planalto fez saber ao partido que perderia o prometido Ministério da Previdência, caso mantivesse sua posição.
No outro extremo, o adesista de carteirinha Ciro Gomes, do PSB, votou contra a CPI de novo, juntamente com a colega Luiza Erundina. Motivo: seu partido perdeu a pasta da Integração Nacional, ocupada pelo próprio Ciro durante o primeiro mandato de Lula. E o afilhado político de Ciro, Pedro Brito, que vinha ocupando o Ministério, ficou a ver navios, porque Lula já escolheu Geddel Vieira Lima, do PMDB, como novo ministro. Geddel, como todos sabem, foi um dos mais contundentes críticos do petismo quando o presidente do país era Fernando Henrique Cardoso.
Para não deixar o PSB ao relento, Lula pensa em retirar do Ministério dos Transportes o setor de portos e aeroportos, para abrigá-lo numa Secretaria com status de Ministério. Seria a 35.a pasta ministerial do governo, número que dá uma idéia do apetite dos políticos brasileiros por cargos e benesses usufruídos com o dinheiro público. Mas aqui Lula encontra a resistência do PR, o ex-PL de Valdemar Costa Neto, aquele que vendeu o partido ao governo por 10 milhões de reais, conforme ele próprio confessou antes de renunciar ao mandato para não ser cassado. O PR, a quem o Ministério dos Transportes está prometido, não admite receber uma pasta com menos cargos do que no figurino original.
E assim la nave va. A maioria dos políticos cuida primeiro de si, como prova a votação do nababesco aumento salarial de 91% para os parlamentares federais, a ser realizada possivelmente ainda hoje. Quanto aos interesses dos eleitores, bem, mas isso é hora de lembrar-se deles quando o assunto em pauta é encher o próprio bolso?
segunda-feira, 19 de março de 2007
Miopia no marketing
Das cerca de 6,6 bilhões de pessoas existentes no mundo, hoje, 4 bilhões estão na chamada base da pirâmide social, com uma renda per capita anual inferior a 3 000 dólares, de acordo com um estudo divulgado nesta segunda-feira pela IFC – International Finance Corporation, braço de investimentos do Banco Mundial. Esses 60% da população mundial classificados como os mais pobres formam, no entanto, um enorme mercado de 5 trilhões de dólares por ano, merecendo, portanto, maior atenção por parte das empresas produtoras de bens de consumo e serviços, como diz o vice-presidente da IFC, Michael Klein. "O relatório dá força aos pedidos de maior engajamento dos negócios com a base da pirâmide econômica, ressaltando a necessidade do setor privado de desempenhar um papel maior no desenvolvimento", afirmou Klein no lançamento do estudo.
A concentração excessiva das empresas nos estratos de consumo suntuário, sobretudo em países pobres como o Brasil, constitui de fato um dos maiores casos de miopia no marketing industrial. Ajudadas pela força de penetração da TV, as indústrias bombardeiam diariamente as donas-de-casa com o anúncio de seus produtos voltados mais para as classes A e B, de alimentos a artigos de higiene doméstica e pessoal. Ou seja, dirigem-se a 100% do público quando, na verdade, apenas 20% ou 30% dele tem poder aquisitivo para consumir produtos desse tipo.
A propaganda massiva causa prejuízos evidentes à administração de orçamentos familiares modestos. Quando uma dona-de-casa, influenciada pela TV, adquire um produto de limpeza ao dobro ou mais do preço de um similar de caráter popular, ela está, obviamente, reduzindo a verba doméstica reservada para os gêneros básicos que alimentam a família, bem como para os transportes e a educação.
As próprias empresas também acabam pagando o preço pela insensibilidade diante da realidade social. Um exemplo clássico, ocorrido no Brasil, foi o da indústria automobilística. Quando tinha o Fusca como seu carro-chefe, a Volkswagen chegou a dominar 70% do mercado brasileiro. Algum executivo de opacas luzes, no entanto, decidiu que o foco da empresa seria dirigido aos segmentos de maior poder aquisitivo, e a fabricação do popular carrinho foi abandonada. Não contente, a Volkswagen ainda associou-se à Ford em busca de economias de escala, numa fusão que tinha tudo para dar errado, pela diferença de cultura entre as fabricantes alemã e americana. Resultado: acabou com os burros na água, perdendo a liderança de mercado e os lucros, e precisou voltar atrás na associação com a Ford. Enquanto isso, a esperta Fiat italiana lançou seu carro popular, o Uno, na brecha aberta com a saída do Fusca, e passou a ocupar o lugar que antes era da Volks.
O alerta feito pelo vice-presidente da IFC, portanto, merece ser ouvido por todas as empresas produtoras de bens de consumo. Na América Latina, onde 70% da população se situa na faixa dos mais pobres do mundo, não faz sentido um marketing concentrado em consumo suntuário. Os fabricantes, evidentemente, não precisam renunciar aos lançamentos mais elaborados, que dão maior lucro por unidade. Mas seria mais inteligente ampliar as opções para o mercado, com a oferta simultânea de produtos populares. Tal estratégia contribuiria não só para reforçar o conhecimento do nome da empresa, detalhe essencial na disputa pelos consumidores, como também para tornar mais estável no tempo o fluxo de receitas e lucros.
Nesse sentido, a indústria de celulares tem tido um comportamento exemplar, no Brasil como no resto do mundo. A ampla gama de seus produtos atende a praticamente todos os gostos e necessidades. Quem só quer telefonar tem os seus modelos, assim como aquele que também quer ouvir música, ver vídeos ou tirar fotografias. Para tornar completo o leque, falta um aparelho que permita sintonizar estações de TV, como já existe em outros países. Mas o serviço só terá sucesso com tarifa reduzida, porque ao atual custo por minuto ninguém quererá assistir por inteiro a um jogo de futebol ou a um capítulo de novela.
Nada se pode fazer, enfim, sem levar em conta o alcance do poder aquisitivo dos consumidores, se o objetivo dos fabricantes for o de ter uma ampla participação no mercado. Qualquer tentativa em contrário corre o risco de ser catalogada como de miopia no marketing.
A concentração excessiva das empresas nos estratos de consumo suntuário, sobretudo em países pobres como o Brasil, constitui de fato um dos maiores casos de miopia no marketing industrial. Ajudadas pela força de penetração da TV, as indústrias bombardeiam diariamente as donas-de-casa com o anúncio de seus produtos voltados mais para as classes A e B, de alimentos a artigos de higiene doméstica e pessoal. Ou seja, dirigem-se a 100% do público quando, na verdade, apenas 20% ou 30% dele tem poder aquisitivo para consumir produtos desse tipo.
A propaganda massiva causa prejuízos evidentes à administração de orçamentos familiares modestos. Quando uma dona-de-casa, influenciada pela TV, adquire um produto de limpeza ao dobro ou mais do preço de um similar de caráter popular, ela está, obviamente, reduzindo a verba doméstica reservada para os gêneros básicos que alimentam a família, bem como para os transportes e a educação.
As próprias empresas também acabam pagando o preço pela insensibilidade diante da realidade social. Um exemplo clássico, ocorrido no Brasil, foi o da indústria automobilística. Quando tinha o Fusca como seu carro-chefe, a Volkswagen chegou a dominar 70% do mercado brasileiro. Algum executivo de opacas luzes, no entanto, decidiu que o foco da empresa seria dirigido aos segmentos de maior poder aquisitivo, e a fabricação do popular carrinho foi abandonada. Não contente, a Volkswagen ainda associou-se à Ford em busca de economias de escala, numa fusão que tinha tudo para dar errado, pela diferença de cultura entre as fabricantes alemã e americana. Resultado: acabou com os burros na água, perdendo a liderança de mercado e os lucros, e precisou voltar atrás na associação com a Ford. Enquanto isso, a esperta Fiat italiana lançou seu carro popular, o Uno, na brecha aberta com a saída do Fusca, e passou a ocupar o lugar que antes era da Volks.
O alerta feito pelo vice-presidente da IFC, portanto, merece ser ouvido por todas as empresas produtoras de bens de consumo. Na América Latina, onde 70% da população se situa na faixa dos mais pobres do mundo, não faz sentido um marketing concentrado em consumo suntuário. Os fabricantes, evidentemente, não precisam renunciar aos lançamentos mais elaborados, que dão maior lucro por unidade. Mas seria mais inteligente ampliar as opções para o mercado, com a oferta simultânea de produtos populares. Tal estratégia contribuiria não só para reforçar o conhecimento do nome da empresa, detalhe essencial na disputa pelos consumidores, como também para tornar mais estável no tempo o fluxo de receitas e lucros.
Nesse sentido, a indústria de celulares tem tido um comportamento exemplar, no Brasil como no resto do mundo. A ampla gama de seus produtos atende a praticamente todos os gostos e necessidades. Quem só quer telefonar tem os seus modelos, assim como aquele que também quer ouvir música, ver vídeos ou tirar fotografias. Para tornar completo o leque, falta um aparelho que permita sintonizar estações de TV, como já existe em outros países. Mas o serviço só terá sucesso com tarifa reduzida, porque ao atual custo por minuto ninguém quererá assistir por inteiro a um jogo de futebol ou a um capítulo de novela.
Nada se pode fazer, enfim, sem levar em conta o alcance do poder aquisitivo dos consumidores, se o objetivo dos fabricantes for o de ter uma ampla participação no mercado. Qualquer tentativa em contrário corre o risco de ser catalogada como de miopia no marketing.
sábado, 17 de março de 2007
Crimes hediondos
Diante de um crime bárbaro como aquele cometido contra o menino João Hélio, tomados de indignação muitos torcem para que aconteça com os algozes algo igual ou pior. Depois, com os criminosos encarcerados, se eles se tornam vítimas de alguma justiça feita por conta própria, aplaudem esse fato com entusiasmo, como se o sistema repressor numa sociedade moderna pudesse mover-se com base apenas em instintos primitivos, como no tempo das cavernas.
A justiça civilizada nunca pode rebaixar-se à barbárie dos transgressores, por mais que julgue crimes hediondos. É por isso que, mesmo admitindo a pena de morte, repudia a tortura. Não faz parte de seus desígnios a crueldade, ela tem de procurar apenas ser justa. Mesmo porque existe sempre o risco do erro, de reparação tão mais difícil quanto maior for o castigo imposto à vítima.
O justiçamento popular é condenável exatamente por não atentar para o princípio elementar que rege a justiça legal, o de punir somente depois de comprovado o delito. Se ele erra em sua avaliação apressada, quem há de reparar o prejuízo causado? Advogados sequiosos por dinheiro costumam inculpar o Estado, mas num caso como o de Daniele Toledo do Prado se torna evidente a soma da ganância à má-fé nessa atitude.
Mãe de uma menina de 1 ano e 8 meses, Victória Maria do Prado Iori Carvalho, pobre, Daniele passou por um calvário no Hospital Universitário de Taubaté, interior de São Paulo. Segundo o relato da repórter Simone Menocchi, do jornal O Estado de S. Paulo, entre uma internação e outra da filha no hospital ela foi violentada sexualmente por um estudante de medicina. Depois, quando a menina morreu, em outubro do ano passado, uma médica da equipe do hospital apontou como causa a existência de cocaína na mamadeira. A Polícia Civil comprovou os indícios da droga e Daniele foi presa, mandada para a penitenciária feminina de Pindamonhangaba, cidade vizinha a Taubaté. Lá, sofreu um justiçamento por parte das outras detentas. Além de apanhar, teve uma caneta tipo Bic enfiada na orelha e o tímpano rompido, mas só no dia seguinte foi transferida para um hospital e, depois, para outro presídio, em Tremembé, onde ficou por mais 36 dias até que um novo exame, feito nas vísceras da criança morta e na mamadeira, mostrou que não havia cocaína.
Estuprada, surda de um ouvido e ainda sem a filha, por quem tanto lutou, Daniele era afinal inocente do crime que lhe atribuíram. Ela hoje tem apenas 22 anos. Como você reagiria ao saber do que lhe aconteceu, se ela fosse sua filha, ou sua irmã? O golpe nela desferido pelo sistema repressor não foi tão cruel e hediondo quanto o arrastamento do menino João Hélio pelas ruas do Rio de Janeiro?
A justiça civilizada nunca pode rebaixar-se à barbárie dos transgressores, por mais que julgue crimes hediondos. É por isso que, mesmo admitindo a pena de morte, repudia a tortura. Não faz parte de seus desígnios a crueldade, ela tem de procurar apenas ser justa. Mesmo porque existe sempre o risco do erro, de reparação tão mais difícil quanto maior for o castigo imposto à vítima.
O justiçamento popular é condenável exatamente por não atentar para o princípio elementar que rege a justiça legal, o de punir somente depois de comprovado o delito. Se ele erra em sua avaliação apressada, quem há de reparar o prejuízo causado? Advogados sequiosos por dinheiro costumam inculpar o Estado, mas num caso como o de Daniele Toledo do Prado se torna evidente a soma da ganância à má-fé nessa atitude.
Mãe de uma menina de 1 ano e 8 meses, Victória Maria do Prado Iori Carvalho, pobre, Daniele passou por um calvário no Hospital Universitário de Taubaté, interior de São Paulo. Segundo o relato da repórter Simone Menocchi, do jornal O Estado de S. Paulo, entre uma internação e outra da filha no hospital ela foi violentada sexualmente por um estudante de medicina. Depois, quando a menina morreu, em outubro do ano passado, uma médica da equipe do hospital apontou como causa a existência de cocaína na mamadeira. A Polícia Civil comprovou os indícios da droga e Daniele foi presa, mandada para a penitenciária feminina de Pindamonhangaba, cidade vizinha a Taubaté. Lá, sofreu um justiçamento por parte das outras detentas. Além de apanhar, teve uma caneta tipo Bic enfiada na orelha e o tímpano rompido, mas só no dia seguinte foi transferida para um hospital e, depois, para outro presídio, em Tremembé, onde ficou por mais 36 dias até que um novo exame, feito nas vísceras da criança morta e na mamadeira, mostrou que não havia cocaína.
Estuprada, surda de um ouvido e ainda sem a filha, por quem tanto lutou, Daniele era afinal inocente do crime que lhe atribuíram. Ela hoje tem apenas 22 anos. Como você reagiria ao saber do que lhe aconteceu, se ela fosse sua filha, ou sua irmã? O golpe nela desferido pelo sistema repressor não foi tão cruel e hediondo quanto o arrastamento do menino João Hélio pelas ruas do Rio de Janeiro?
sexta-feira, 2 de março de 2007
Lente cor-de-rosa
O Produto Interno Bruto, PIB, indicador das riquezas produzidas num país ao longo de um ano, cresceu em 2006 apenas 2,9% no Brasil, enquanto a média mundial atingiu 5,1% e a das nações emergentes, 6,5%. Também em 2005 o resultado tinha sido pífio: só 2,3% de crescimento. Assim, o governo Lula cumpriu seu primeiro mandato com uma taxa anual média no PIB de apenas 2,6%, praticamente igual à da primeira metade do governo antecessor, mesmo sem ter enfrentado, como aquele, crises internacionais e o desafio de promover profundas reformas na economia.
Há onze anos, desde 1996, o Brasil vem crescendo abaixo da média mundial. Num ranking de 177 países elaborado pelo Fundo Monetário Internacional, FMI, com base no crescimento econômico obtido nos últimos dez anos, o Brasil ocupa apenas a 142.a posição. Ou seja, estamos na rabeira, no meio daquela turma que na corrida de São Silvestre só entra para fazer figuração.
Por que crescemos tão pouco? Há várias razões, mas uma das principais é a enormidade da carga tributária que sufoca a sociedade brasileira. No ano passado, o peso dos impostos alcançou o equivalente a 38,8% do PIB, um recorde, depois de aumentar de novo cerca de 1 ponto percentual, como nos anos anteriores. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, IBPT, cada brasileiro pagou em média pouco mais de 4 400 reais durante o ano para sustentar o governo, aqui incluídos o federal, os estaduais e os municipais. "O excesso de tributação", disse o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, ao divulgar os dados ontem, "retira poder de compra dos salários, ao mesmo tempo em que aumenta o preço final de mercadorias e serviços, fazendo retrair o consumo, afastando investimentos produtivos e dificultando a geração de empregos formais".
Vivemos, enfim, uma situação deplorável por todos. Menos pelo presidente Lula, que ri e dança como a fazer troça da tristeza em volta. Em conversa com jornalistas durante o café da manhã de ontem no Planalto, segundo a colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, ele deu a seguinte declaração de boca cheia: "A área econômica está blindada pelo sucesso". Sucesso onde, cara-pálida? Será que ele pensa ser presidente de algum outro país?
Há onze anos, desde 1996, o Brasil vem crescendo abaixo da média mundial. Num ranking de 177 países elaborado pelo Fundo Monetário Internacional, FMI, com base no crescimento econômico obtido nos últimos dez anos, o Brasil ocupa apenas a 142.a posição. Ou seja, estamos na rabeira, no meio daquela turma que na corrida de São Silvestre só entra para fazer figuração.
Por que crescemos tão pouco? Há várias razões, mas uma das principais é a enormidade da carga tributária que sufoca a sociedade brasileira. No ano passado, o peso dos impostos alcançou o equivalente a 38,8% do PIB, um recorde, depois de aumentar de novo cerca de 1 ponto percentual, como nos anos anteriores. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, IBPT, cada brasileiro pagou em média pouco mais de 4 400 reais durante o ano para sustentar o governo, aqui incluídos o federal, os estaduais e os municipais. "O excesso de tributação", disse o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, ao divulgar os dados ontem, "retira poder de compra dos salários, ao mesmo tempo em que aumenta o preço final de mercadorias e serviços, fazendo retrair o consumo, afastando investimentos produtivos e dificultando a geração de empregos formais".
Vivemos, enfim, uma situação deplorável por todos. Menos pelo presidente Lula, que ri e dança como a fazer troça da tristeza em volta. Em conversa com jornalistas durante o café da manhã de ontem no Planalto, segundo a colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, ele deu a seguinte declaração de boca cheia: "A área econômica está blindada pelo sucesso". Sucesso onde, cara-pálida? Será que ele pensa ser presidente de algum outro país?
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