Um delegado federal que se arvora de censor da liberdade de imprensa no país ao coagir repórteres da revista Veja, chegando a exigir deles a renúncia ao direito constitucional da preservação de fontes de informação. Um governador reeleito que se julga imune a ponto de nomear a seu bel-prazer a imprensa boa (a que lhe convém) e a má. Um presidente de partido e coordenador da campanha de Lula à reeleição que faz aflorar sua arrogância ao instar a imprensa a uma auto-reflexão, inclusive com a publicação de um desmentido formal a respeito da existência do Mensalão. Militantes leões-de-chácara que agridem jornalistas por eles considerados de oposição na preparação de uma entrevista coletiva do presidente recém-reeleito. O recurso constante, hoje como ontem, à Lei de Imprensa para cercear a liberdade de informação e expressão por parte de profissionais e órgãos de comunicação. O ressurgimento da malograda tentativa de instalar o Conselho Federal de Jornalismo, agora na forma de uma pretensa democratização dos meios de comunicação com a edição de uma lei geral para a mídia eletrônica (rádio e TV) que favoreça a participação comunitária e aumente o 'controle social' do conteúdo, como está previsto no programa de governo do presidente reeleito.
A escalada de atentados contra a liberdade de informação e opinião assume uma dimensão alarmante, nestes poucos dias que nos separam da votação do último domingo. No clima de exacerbação do furor censório de apaniguados do poder reconduzido pelas urnas, alguns jornalistas conhecidos deixam a máscara cair, não só assumindo sua condição de simpatizantes como ainda cobrando do governo providências contra o que, a seu ver, constitui um modo panfletário de distorcer os fatos noticiados. E as entidades classistas, com a Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj, à frente e os sindicatos atrás, ocupadas pela CUT e infestadas de petistas, calam-se, coniventes com o descalabro. Não fossem a OAB, a entidade dos advogados, e a ANJ, dos donos de jornal, não se ouviria hoje uma voz em defesa dos profissionais do ramo visados pelos agentes e surfistas desse tsunami nefasto, que querem arrasar não um reduto corporativista, mas sim um dos pilares principais da democracia no Brasil.
O direito à pluralidade de informações é, com certeza, a maior das conquistas obtidas pela cidadania com a redemocratização do país. Quando defendem a liberdade de imprensa, os verdadeiros democratas o fazem em nome do interesse maior da sociedade, jamais como paus-mandados das oligarquias que ainda detêm a posse de parte dos órgãos de comunicação no Brasil. Além do mais, a ingerência estatal arquitetada nesse caso está claramente a serviço de um projeto de poder, e não de alguma real necessidade de aumentar a massa de informações do povo mais humilde e iletrado.
Os quase 60 milhões de votos dados a Lula no último domingo expressaram uma legítima prática democrática. Por isso mesmo, não lhe conferiram, nem a ele e nem muito menos aos quadrilheiros de plantão que atuam à sua sombra e foram identificados, senão pela opinião pública, pelo próprio procurador-geral da República, poderes para tramar o estupro de uma conquista tão cara à cidadania. É preciso enxergar o que está de fato por trás dos atentados à liberdade de imprensa para não servir de massa de manobra e inocente útil aos violadores da democracia.
quinta-feira, 2 de novembro de 2006
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