Paulo Autuori é um vencedor, tanto como técnico de futebol quanto como pessoa. Educado, de fala mansa embora com voz de barítono, mesmo depois de estrear com uma sonora goleada contra o Corinthians, aplicada por seu então time, o São Paulo, no Campeonato Brasileiro do ano passado, preferiu atribuir o resultado às artes do acaso. Em nenhum momento cantou de galo para os repórteres que o entrevistavam. No fim do ano, outro feito. O São Paulo foi campeão mundial interclubes em Tóquio, e de novo ninguém ouviu Autuori cacarejar sobre seus méritos.
Agora, quando se lê uma entrevista dada por ele ao jornal O Estado de S. Paulo no Japão, país no qual dirige hoje o Kashima Antlers, surge um Paulo Autuori por inteiro. Entende-se que ele não apenas parece ser, mas é de fato um sujeito digno e um brasileiro com 'b' maiúsculo. O seguinte trecho, em resposta a uma tentativa de comparação do Brasil com o Japão na área de segurança, feita pelo repórter Eduardo Maluf, é exemplar:
"O Brasil não é parâmetro para segurança, porque aí a coisa é absurda. A segurança deveria ser algo normal, como aqui. É incrível o que ocorre no Brasil, qualquer cidadão se sente inseguro. E o pior é que a gente perdeu o poder de indignação. Veja, há pessoas com problemas graves, denúncias, sendo eleitas. Precisamos tomar um choque. Não adianta a pessoa se indignar quando seu clube perde, quando a seleção perde. As pessoas têm de se indignar com as coisas realmente importantes. Vivemos crise de princípios. O problema é a questão de o brasileiro ser o povo da esperança. Não existe viver de esperança. A gente vive de realidade."
O choque de moralidade pregado por ele é o mesmo que no passado políticos como Mário Covas defenderam. Pena que esse choque, até agora, não tenha ocorrido nem dê sinais de algum dia vir a ocorrer.
quarta-feira, 15 de novembro de 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário