Alguns, prudentes, não falam com estranhos.
Outros, muito práticos, dizem apenas o necessário
para o bom andamento dos negócios.
Alguns, calmos e sérios, fecham portas e janelas.
Outros, afoitos, ou filhos de um deus sem-terra,
oferecem biscoitos, talvez flores, e longa prosa.
De todos, quem sorri com mais dentes de ouro?
quem finge? quem vê no espelho sua própria esfinge?
Esse poema, Esfinges, extraído do livro Pássaro de Vidro (Editora Hedra, 2006), do poeta e jornalista Carlos Machado, retrata bem a incomunicabilidade da alma humana. Com o poder de síntese próprio da linguagem poética, revelado sob versos construídos quase como prosa, o autor penetra no abismo que existe entre o aparente e o real, o exibido e o oculto, o fingido e o sentido no jogo das relações humanas. Para além da falsidade do ouro nos dentes, o espelho mostra a esfinge que cada um de nós é. E ao proteger nosso interior com uma couraça, por medo de desnudar nossas fraquezas, também falhamos na tentativa de decifrar outras esfinges.
quarta-feira, 22 de novembro de 2006
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