Um aspecto pouco comentado, mas notável no comportamento do torcedor de futebol, é o desinteresse que ele demonstra pela parte tática do jogo. Focado apenas no resultado, para ele tanto faz se a partida foi bem disputada ou não, se o time adversário mostrou méritos, se os técnicos de um e de outro lado souberam ou não preparar a equipe para a porfia. A vitória, apenas ela, é que quer, e se por goleada tanto melhor.
A torcida do São Paulo vaiou o time na noite deste domingo porque ele não conseguiu ir além de um empate, jogando em casa, contra o modesto Ipatinga, de Minas, penúltimo colocado no Campeonato Brasileiro da série A. Tudo bem que o goleiro Rogério Ceni ainda precisou se empenhar para que o time não acabasse derrotado, mas as vaias foram injustas. Depois de empatar com o Náutico e perder do Atlético Mineiro, do Flamengo e do Vasco da Gama, em seqüência, o Ipatinga fechou-se na defesa e jogou somente no contra-ataque, com o grandalhão Adeílson isolado na frente. Como destruir, no futebol, é mais fácil do que construir, alcançou assim o objetivo de não perder de novo. Já o São Paulo, concentrado no ataque, correu sérios riscos ao abrir espaços na defesa. Quer dizer, os jogadores de ambos os lados fizeram o que deles se poderia esperar, uns lutando para não cair ainda mais, outros tentando vencer a todo custo. O empate em 1 a 1, por isso, acabou sendo justo, mas a torcida são-paulina não quis saber, e mandou a vaia.
No Campeonato Brasileiro da série B, no sábado, Corinthians e São Caetano disputaram um outro tipo de jogo, mais técnico e menos repetitivo. Um jogo, não, um jogão de encher os olhos, embora o magro placar final de 1 a 0 a favor do Corinthians. Foi, seguramente, uma das melhores partidas do alvinegro da capital paulista neste ano, o que mostra que o técnico Mano Menezes soube preparar a equipe nos treinos feitos durante o retiro de cinco dias em Itu, no interior do estado. Firme na defesa, habilidoso no meio, rápido na frente, o Corinthians só não fez mais gols porque deparou com um adversário igualmente bem preparado, com jogadores desempenhando suas funções à beira da perfeição. Se é tudo isso que mostrou no sábado, o São Caetano se torna forte candidato a subir para a divisão principal do futebol brasileiro ao fim do atual campeonato.
Mesmo que, em tese, os adversários da série B sejam mais fracos que os da série A, de onde o Corinthians foi rebaixado no ano passado, pode-se afirmar sem receio que hoje há um outro time em campo, sobretudo na consciência tática. Além de contar com dois meias-armadores de ofício, Douglas e Elias, e dois volantes que tanto sabem defender quanto atacar, Fabinho (com seu reserva imediato Nilton) e Eduardo Ramos, o time tem agora uma forte arma nos deslocamentos constantes dos homens de meio e de frente, que facilitam o passe e abrem caminho para o avanço também dos laterais, Alessandro e André Santos. Com isso, ganha muito em fluência de jogo, evitando os chutões, e em ocupação de espaços. A chamada segunda bola, quase sempre perdida no ano passado, agora é sua na maioria das vezes, o que também lhe dá mais volume de jogo.
A partida Corinthians versus São Caetano, do sábado passado, certamente ficará gravada na mente de torcedores que apreciam o futebol acima das colorações clubísticas como uma das melhores disputadas na série B deste ano. Esperemos que haja outras assim daqui até o fim do ano, para nosso deleite.
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