O leitor Adolfo Zatz e o colunista Luis Fernando Veríssimo, cada qual a seu modo, expressam no Estadão de hoje essa estranha sensação, que parece dominar o país, de que nenhuma corrupção mais nos espanta ou indigna. Depois de lembrar a declaração do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), de que “o Senado está sangrando muito mais do que o Renan”, Zatz escreve: “Eu acrescentaria: o Brasil está sangrando muito mais que os dois. O povo não agüenta mais tanta corrupção e impunidade, tudo sob as barbas do nosso presidente, que teima em se fingir de surdo, mudo e cego. Lula oficializou a corrupção no Brasil, que se tornou regra, não exceção”. E Verissimo, com sua capacidade incomum de abordar assuntos cabeludos com leveza, diz: “A própria indignação acumulada acaba tendo efeito anestesiante – o que mais há para sentir e dizer, depois da conclusão de que todo o mundo é corrupto fora o Jefferson Peres? (...) Como os banqueiros estão contentes e o povão reelegeria o Lula, seus improvisos e seus parentes num minuto, resta à política a fofoca e o concurso de oratória e à oposição a tênue esperança de um escândalo tão escandaloso que anule a anestesia”.
Há algo de muito grave acontecendo, de fato, ao sul do Equador e que nada tem a ver com a pane nos aeroportos. Há um país que nunca como agora mereceu ser chamado de gigante adormecido. Há uma população inteira sem saber o que fazer diante da sucessão de escândalos de corrupção nos altos escalões da República que acabam dando em nada. A anestesia geral, diante disso, é antes um bem que um mal, porque raiva em excesso mata. Mas e as conseqüências para o futuro?, pode-se perguntar. O que será feito das gerações que nos sucederão, privadas de noções mínimas de cidadania como resultado da impunidade reinante? Estamos condenados a ser uma nação de cínicos, afora os corruptos?
quinta-feira, 21 de junho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário